Resumo:
A presente tese teve como objetivo compreender como os estudantes do Ensino Médio
de uma escola pública da rede estadual do Rio Grande do Sul percebem e constroem sentidos em relação à organização temporal escolar atual, considerando a proposta curricular do Novo Ensino Médio. Para isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa de abordagem etnográfica na fronteira entre a antropologia e a educação, visando uma imersão no cotidiano escolar. A instituição escolar foi compreendida como o local de investigação e o tempo escolar como objeto de estudo, utilizando recursos etnográficos como diário de campo, observação participante, fotografias e entrevistas. O estudo envolveu jovens do segundo ano do Ensino Médio em uma escola pública no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, representando a juventude contemporânea brasileira. No contexto investigado, foi possível compreender os sentidos que os sujeitos atribuem ao tempo diante das percepções de suas vivências temporais escolares, quais sejam: sociabilidade conectada, multitarefa, tédio, e abandono formativo. Esses sentidos
foram analisados diante do seguinte diagnóstico do presente: a aceleração das estruturas sociais (ROSA, 2019), o desenvolvimento do capitalismo de vigilância (ZUBOFF, 2020) no contexto da sociedade de controle (DELEUZE, 1992) e a lógica racional neoliberal (DARDOT; LAVAL, 2016). Diante disso, esta pesquisa defende a tese de que a experiência temporal escolar das juventudes é ressignificada no contexto neoliberal contemporâneo, marcado pelo processo de aceleração social (ROSA, 2019) e pelo desenvolvimento do capitalismo de vigilância (ZUBOFF, 2020). Nesse cenário, o tempo escolar juvenil adquire sentidos de sociabilidade conectada, multitarefa, tédio e abandono formativo, em detrimento de uma discursividade política que preconiza a autonomia juvenil. Em nome dessa promessa de autonomia, o direito a uma educação estruturada no conhecimento é fragilizado, colocando-se exclusivamente sobre os jovens a responsabilidade pelo seu percurso formativo.