Resumo:
A presente tese objetiva investigar práticas curriculares democráticas em Escolas do Campo no contexto brasileiro. A análise conceitual a que nos propomos toma, como referência teórica para abordar o currículo, a teoria crítica, a partir das formulações de Escolas e de currículos democráticos de Michael Apple e de James Beane, e da produção sobre Educação do Campo no país, no âmbito da qual os trabalhos de Roseli Caldart e Mônica Molina têm sido destacados pela capacidade de análise da função social, política e pedagógica da Escola do Campo ao campesinato brasileiro. Nesse sentido, buscando compreender os desafios impostos à sociedade, à Educação e à Escola pelo capitalismo em seu estágio neoliberal, realizamos uma análise sociológica e política que se estrutura em intelectuais de base marxista e vertentes neomarxistas, examinando os seus efeitos principalmente na democracia. Tal perspectiva teórica se entrelaça à abordagem política intitulada “comum” desenvolvida por Pierre Dardot e Christian Laval, de contraposição, resistência e antecipação aos atuais efeitos do neoliberalismo na sociedade, na Educação e na Escola. Para a análise construída nesta tese, utilizamos como campo empírico uma Escola do Campo de Assentamento, localizada no Estado do Rio Grande do Sul, e uma Escola Família Agrícola, situada no Estado do Espírito Santo. A descrição, análise e compreensão de práticas curriculares apresentadas utilizam como método de investigação os estudos comparados em Educação e em currículo, tendo como referências Maria Ciavatta, Fabiany C. T. Silva e Jurgen Schriewer. Tal opção metodológica, em sintonia com o aporte teórico, indica que a diversidade política e a diversidade pedagógica das práticas curriculares são alternativas à razão neoliberal, já sedimentadas neste campo empírico de pesquisa e construídas em uma lógica emancipadora, participativa, solidária e democrática que nos permite indicar a instituição do comum a partir da Escola do Campo. As práticas curriculares democráticas engendradas nas Escolas do Campo brasileiras inscrevem-se na perspectiva de redesenhar os tempos e espaços formativos, bem como se ancoram em modelos integradores, participativos e críticos para pensar o conhecimento e a formação humana. Mais que isso, os princípios advindos da análise comparativa de Escolas do Campo demonstram potencial heurístico para pensar a Escola do século XXI.