Resumo:
Esta pesquisa retoma a problemática das classes sociais e explica de que forma e porque se considera que os recicladores e catadores de materiais recicláveis constituem uma classe. Diversos estudos têm evidenciado a importância da articulação política dos trabalhadores para que consigam fazer enfrentamentos necessários em busca de seus direitos. Para compreender esse dinamismo, o referencial teórico escolhido comporta autores marxistas que explicam a atualidade do conceito de classe social a partir de concepção estrutural, de relações e de consciência de classe. Parte-se do pressuposto de que a produção e o mercado compõem os elementos mais precisos de classificação e mobilidade social e de que os conceitos de conflito e de exploração são fundamentais. Em outras palavras, entende-se que as classes sociais expressam a forma como as desigualdades se estruturam na sociedade capitalista. A metodologia utilizada se constitui em estudo de caso único a partir de revisão documental e bibliográfica, entrevistas semiestruradas e pesquisa participante. As técnicas escolhidas para a análise dos dados coletados foram análise de séries temporais e análise de conteúdo. O campo deste estudo é o Fórum dos Recicladores do Vale dos Sinos (FRVS), no Rio Grande do Sul, que desde 2002 articula os recicladores da região em torno de suas atividades, promovendo a união das associações e cooperativas da região, reestruturando as relações de produção com princípios de solidariedade e colaboração. Tomando como base o conceito de consciência de classe, composta, neste estudo, pelas relações de classe e pelas visões de mundo dos recicladores, buscou-se investigar em que medida a articulação coletiva em torno do Fórum dos Recicladores do Vale dos Sinos (FRVS) se constitui como um espaço de fortalecimento da consciência de classe dos trabalhadores envolvidos. Diferentemente de medir níveis de consciência, este estudo traz elementos para compreender as dinâmicas do FRVS, que não podem ser caracterizadas por meio de mudanças lineares ou evolutivas, mas a partir de processos de rupturas e continuidades. O fato de os trabalhadores reunirem-se em torno de suas cooperativas pode ser analisado, em termos marxistas, na prática que constituiu uma classe em si, ou seja, uma classe em relação ao capital. A articulação política mais ampla, como a que ocorre no FRVS, pode ser entendida como o exercício para que os recicladores se tornem uma classe para si mesmo, isto é, que o grupo eleve a necessidade econômica de sua luta de classe ao nível de uma vontade consciente, de uma consciência de classe ativa. Por fim, compreende-se o conceito de classe não como um dado fixo, definido apenas pelas determinações econômicas ou de renda, mas composto por atores sociais, políticos e culturais que agem, se constituem, interpretam a si mesmos e se transformas por meio da luta e relações de classes, tendo a práxis - um fazer histórico - como perspectiva significativa.