Resumo:
A tese aqui apresentada tem como objetivo demonstrar que existe uma relação de atenção e cuidado entre corpo e alma na antropologia filosófica de Agostinho de Hipona. Para isso, nos perguntamos: qual o tipo de relação que existe entre corpo e alma? Ela é conflituosa ou harmônica? Para responder, minimamente, essas questões, utilizamos como recursos principais algumas obras de Agostinho, que diferem cronologicamente, mas que contribuem com o problema aqui proposto. Tais obras, como A Trindade, Comentário ao gênesis, A Grandeza da alma, A Natureza do Bem, A Música, O Livre-arbítrio, a Doutrina Cristã, entre outras, forneceram as informações básicas, compiladas em resumos e fichamentos, e que serviram de base para a produção textual, argumentativa e conclusiva do texto. A defesa aqui proposta também pretende objetar a tese de que o corpo tem um papel de desviar a alma de seu destino espiritual e a corrompe com os ditames da vida mundana. Ao contrário, a linha argumentativa do texto defende a estreita união entre corpo e alma, sendo essa última a responsável pelas escolhas, sejam elas boas ou más, da pessoa. A partir disso, compreendemos que a alma, para Agostinho, é uma substância incorpórea, que não se localiza espacialmente no corpo, e que possui faculdades que podem aprimorar seu desempenho ao longo do
tempo. Formam as faculdades da alma a memória, inteligência e a vontade, a exemplo
da imagem trinitária de Deus. O corpo, por sua vez, criado por Deus, também tem vestígios do seu criador, mas não é à imagem e semelhança dele. No entanto, ele também é um bem, assim como toda materialidade. O corpo também possui trindades
imperfeitas de Deus. Corpo e alma unidos formam o ser humano. Dessa forma, aquilo que entendemos como um “eu” que concede identidade ao seu humano, não está só na
alma, mas na união dela com um corpo. Essa união acontece porque a alma deve, em
uma de suas funções, cuidar do corpo, mantendo a unidade e a boa saúde dele. Dessa
forma, ela exerce dois movimentos direcionados ao corpo. O primeiro se trata em agitar
elementos da natureza que se encontram no corpo para que esses o animem, concedendo-lhe movimentos autônomos. A animação do corpo também mantém os
órgãos em funcionamento e os sistemas desempenhando seus papéis para que o corpo
continue vivo. O segundo movimento da alma é a sensibilidade, onde, através do corpo,
a alma pode sentir e apreender a medida das coisas corpóreas do mundo que está a sua
volta. Isso ocorre porque, quando um objeto externo incita um dos órgãos sensoriais e
altera o estado natural do corpo, a alma dirige sua atenção a esse fato, visando proteger
o corpo de qualquer situação nociva. Por fim, salientamos que a relação corpo e alma
em Agostinho de Hipona é um movimento recíproco, onde a alma protege o corpo dos
perigos que podem prejudicá-lo; e o corpo permite que a alma tenha acesso às
informações do mundo material, formando, assim, o conhecimento dele. Esse conhecimento do mundo físico, que a alma guarda em sua memória, é chamado por
Agostinho de ciência.