Resumo:
Esta dissertação trata da análise das trajetórias de professoras negras lésbicas do sul do Brasil, atuantes no ensino público e sua (in)visibilidade no espaço educacional, problematizando cotidianos escolares historicamente marcados por produções monoidentitárias. O estudo problematiza as estratégias e recursos de sobrevivência construídos pelas professoras negras lésbicas no decorrer de suas trajetórias percorridas na educação. Evidenciando como produziram e produzem práticas pedagógicas como metodologias essenciais das rachaduras de um sistema que invisibiliza suas trajetórias e a partir disso, demonstra as práticas de resistência intelectual e pedagógicas elaboradas por três professoras negras lésbicas que atuam no ensino público. A resistência nessa perspectiva, é compreendida, como um conjunto de mecanismos e práticas que procuram a redefinição e ressignificação da vida, do ser professora negra e lésbica, de autodeterminação e de dignidade. Constitui-se no campo da Educação, com abordagem qualitativa, empregando enquanto estratégia metodológica a entrevista compreensiva. Operando com a interseccionalidade enquanto base conceitual e ferramenta de análise, demonstra a impossibilidade de compreendermos os sistemas de resistência e dominação sem considerarmos o modo como raça, classe, gênero e sexualidade se comunicam e operam interligando os mecanismos de dominação. Ressalta-se como considerações finais que a interpelação interseccional permite analisar e compreender a multiplicidade de diferenças presentes nas trajetórias docentes de mulheres negras lésbicas, que interagem e atuam em diferentes espaços balizados por inúmeras discriminações, como o racismo, o machismo e a lesbofobia. A análise realizada a partir de uma perspectiva teórica/empírica, demonstra como as esferas de desigualdades se sustentam umas nas outras para a conservação do status quo. Simultaneamente ressalta-se que a entrevista compreensiva, empregada não apenas como técnica, mas também como um expediente diferenciado para a elaboração teórica apoiada nos dados, revela aspectos do protagonismo das professoras negras lésbicas, possibilitando a restauração de compreensões teóricas do feminismo negro lésbico inexploradas, proporcionando orientação epistemológica no trato das fontes, que são entrevistas de professoras negras lésbicas, autoras de suas próprias histórias. Tais mulheres, ressignificam o lugar de exclusão e o convertem em espaço de luta, de experiências emancipatórias e em cenário para pensamentos teóricos e produção de conhecimento. As brechas criadas nos microespaços conquistados por essas professoras, tensionam as barreiras institucionais e produzem diversas possibilidades epistemológicas que as professoras negras lésbicas proporcionam ao ocupar o espaço docente, visibilizando o que embasa os processos de exclusão e anulação dessas existências.