Resumo:
Esta tese, com inspiração no pensamento da diferença, tem como tema a montagem do pensamento e da escrita quando do gesto da pesquisa em educação, propondo a seguinte pergunta: De que modos podemos ensaiar o pensamento e as escritas em Programas de Pós-Graduação em Educação desde o dar a ver da montagem? Para tanto, toma o conceito de montagem a partir de Deleuze e, principalmente, de Didi-Huberman, para realizar certa extração, investigando como se monta a escrita acadêmica e o pensamento em educação, a partir de um recorte específico da educação superior. Georges Didi-Huberman fornece subsídios conceituais para se pensar a montagem enquanto método e forma de conhecimento, mas também como gesto político, procedimento filosófico e criação estética, tomados como um ato de compreensão pedagógica, como montagem dos sintomas do presente. Os conceitos operados são o pensamento e a escrita agenciados pelo procedimento da montagem, para pensar a escrita acadêmica em educação através da troca epistolar com egressos de programas de pós-graduação stricto sensu em educação. Desse modo, foi realizada uma conversação
por meio de cartas com 17 estudantes – que é o que caracteriza a escrita acadêmica, enquanto quem se debruça sobre sua mesa de estudo em um ofício do estudar –, entre eles alunos e professores do campo da educação do Brasil, de Portugal, da Espanha e da França. Com base nesse procedimento, foram escritas 46 e recebidas 37 missivas, totalizando 83 documentos. Uma das ferramentas da desmontagem, para construção da análise, efetivou-se com a técnica do cut-up, que consiste num movimento singular de recortar fragmentos e realizar sua mescla, como uma espécie de jogo de cartas, um embaralhar de fragmentos montados singularmente. A partir disso, o texto elaborado como tese é da ordem do pedagógico, do literário e também do filosófico. Ele é montado com três movimentos de escrita: o primeiro, denominado Mar aberto, é uma escrita ficcional margeando a literária, em que dois personagens conversam sobre o tema da escrita; o segundo, Pages in process, é um ensaio crítico que busca em Mar aberto um limiar de pensamento na conversação epistolar, isto é, examina como uma desmontagem para posterior montagem os sintomas que circularam pelas cartas; por fim, Micropolítica dos vaga-lumes é um ensaio sobre a montagem do pensamento e da escrita em educação, que veio a ser o projeto de tese escrito para a qualificação e que apresenta as bases conceituais da tese. Esses três textos mostram um bastidor de investigação, um gesto de pesquisa, que interroga sobre a montagem da escrita e do pensamento em educação. Trata-se de interrogar o objeto e o próprio modo de olhar como, o que e por que escrevemos em educação e o que estamos nos tornando no presente. Argumenta-se que a escrita pode ser um ofício que possibilita a montagem do pensamento, o que proporciona um entendimento mais amplo sobre o próprio ato de escrever que faz 14 pensar a diferença. O que se fez, como metodologia, é a exposição das anotações e pensamentos sobre um bastidor do que se pensa no movimento de construção de uma investigação – problematizar o processo de escrita, entendendo com isso a relação (poder-se-ia dizer dialética, no que tange ao pensamento de Benjamin e Didi-Huberman) entre o texto final e tudo o que faz parte da escrita: anotações preparatórias, fragmentos, rascunhos etc. Algumas agulhas para desativar as certezas, disparadoras de outras visibilidades e outras paisagens do pesquisar, ficaram mais marcadas a partir das conversações nas cartas, tais como: a relação entre escrita e certa temporalidade, um parar diante do tempo, a espera como potência de uma pequena demora que é a leitura e a escrita; a escrita e a política da amizade; a escrita e o presente neoconservador que vivemos, entre outras. Assim, tomar a escrita como montagem do pensamento poderia operar como certa problematização do pensamento binário e representacional em educação, entendendo a montagem como um procedimento pedagógico de formação de pensamento e de transformação de si em se tratando da pesquisa em educação. Escrever em meio à vida com uma disposição textual que age fazendo furo com a literatura, a filosofia e a educação, em uma escrita acadêmica, cria uma certa ideia de escrita que sustenta a posição da dúvida e tenta desativar a indústria das certezas.