Resumo:
Esta pesquisa analisa estratégias de inserção sociais e econômicas de migrantes açorianos no sul da América portuguesa. O local escolhido é a freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo, durante a segunda metade do século XVIII.Nesse período, diversos moradores das nove ilhas que compõe o arquipélago dos Açores (Portugal insular) deslocaram-se para o povoamento da América, com destaque para as áreas fronteiriças, como o então Continente do Rio Grande de São Pedro, região de interesse entre as Coroas portuguesa e espanhola. A pesquisa procurou identificar esse processo migratório repensando as motivações dos ilhéus para a saída do Arquipélago, bem como a chegada em Rio Pardo. Com o foco para as ações dos sujeitos migrantes, demonstram-se as múltiplas estratégias desses sujeitos para o estabelecimento na região, notadamente fronteiriça e em constante movimento. A partir da análise serial de fontes paroquiais (registros de batismo e matrimônios da freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo), Relação de Moradores que possuíam campos e animais no
Continente e outras fontes, tais como os Autos de Justificava do Matrimônio (1753-1763),
percebe-se que a presença açoriana se deu desde os primeiros anos de fundação da freguesia, o que é verificado através das escolhas matrimoniais e de compadrio, além do acesso a terra e atividades econômicas desenvolvidas. Através de concepções de um Antigo Regime nos Trópicos, aliadas à inspiração metodológica da Micro-História italiana, demonstra-se que nem todos aqueles que migraram das ilhas para a região de Rio Pardo formaram uma massa pobre e submissa aos mandos da Coroa portuguesa. Com o cruzamento nominativo, foi possível analisar estratégias de um grupo de migrantes que alimentavam uma rede de múltiplas relações, imbricadas tanto social quanto economicamente.