Resumo:
O objetivo da pesquisa concentra-se em analisar as racionalidades engendradas na produção da docência para o Ensino Médio a partir das orientações que predominaram nos impressos pedagógicos destinados aos professores desta etapa da escolarização, publicados no Brasil na segunda metade do século XX, considerando as relações entre Estado, economia e educação. Tais relações são marcadas pela emergência da precarização, enquanto expressão de um projeto de desenvolvimento econômico neoliberal, que envolve as configurações de um “neossujeito”, fabricado sob a égide da competitividade, do utilitarismo e da individualização. A metodologia proposta para este estudo envolveu a análise documental, orientada conceitualmente pelo conceito de “epistemologia social”, proposto por Thomas Popkewitz, contrastada com as teorizações de Laval e Dardot (2016), em forma de uma crítica à racionalidade neoliberal. Os resultados das análises dos impressos pedagógicos apontaram para a produção de uma “neodocência” para o Ensino Médio, pautada pelo princípio da eficiência pedagógica e da renovação curricular, em termos da busca por excelência de resultados, tendo como pressupostos a inovação permanente e a capacidade de adaptação diante das mudanças constantes. Este processo se manifesta no dimensionamento de uma “revolução copernicana” para a educação, ao posicionar o aluno como centro do processo educativo e relegar o docente a um facilitador da aprendizagem. Outra dimensão constatada foi a ênfase na construção de um novo currículo capaz de orientar o trabalho pedagógico para o “aprender para a vida”, expressão do desenvolvimento de uma docência cada vez mais prática. Indicativos que denotam que as racionalidades das políticas neoliberais passaram a operar no cerne da atividade do professor, influenciando as orientações didáticas, concebidas como um conjunto de técnicas de entretenimento que aproximam o fazer docente a um fliperama; do planejamento enquanto estratégia de ensino vinculada ao desenvolvimento de dinâmicas educativas traduzidas em tecnologia instrucional e dos objetivos de ensino considerados competências essenciais para a gestão da aula. Em tais condições, a valorização do comum, enquanto princípio educativo, emerge como alternativa para os contornos economicistas que perfazem a fabricação de uma “neodocência” para o Ensino Médio brasileiro.