Resumo:
Este trabalho visa explorar e compreender as experiências de mulheres escravizadas, tendo como lócus Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, em meados do século XIX. Para buscar as vivências, agências e resistências de mulheres que viveram a escravidão, focamos em três esferas de suas vidas: o trabalho, a maternidade e a família, e os relacionamentos sexo-afetivos. Para tal objetivo utilizamos como metodologia a micro-história, o aporte teórico da interseccionalidade e o conceito de experiência de E. P. Thompson. Nossas principais fontes foram os processos criminais, integrando outros documentos, tais como registros paroquiais, alforrias, processos de tutela e inventários, que foram possíveis de encontrar no cruzamento de dados. No primeiro capítulo ao abordar a experiência do trabalho na vida das mulheres escravizadas trouxemos: a percepção de uma Cachoeira do Sul feminina e pluriétnica; os dados e discussões em torno da alforria em uma abordagem interseccional; a importância de pensar a escravidão e a liberdade não como limites estanques, mas em interação; as formas de autonomia que podiam ser conquistadas na escravidão e as perspectivas que determinadas ocupações podiam dar na experiência enquanto escravizadas e libertas. No segundo capítulo, cuja abordagem é a maternidade negra, conseguimos acompanhar a luta empregada por mulheres na proteção de seus filhos e, na tentativa de proteger as autonomias conquistadas para si e para os seus, problematizamos, também, como aquelas mulheres viviam o lugar de escravizadas e protetoras de seus filhos. No último capítulo buscamos entender como os relacionamentos sexo-afetivos se davam entre pessoas que dividiam a mesma condição jurídica e de raça, mas não a de gênero, que tipo de relacionamentos buscavam ter, quais as expectativas femininas e como podiam dialogar com os estereótipos de raça e gênero do período, e como se davam as masculinidades negras entre homens escravizados.