Resumo:
Esta dissertação objetiva analisar como o conceito de pensamento é descrito nos três principais documentos que regem a Educação Infantil brasileira no presente (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/1996, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/2010 e Base Nacional Comum Curricular/2018) e quais suas implicações para a relação entre infância e pensamento. Para tanto, parte-se de uma perspectiva da filosofia, dos estudos da diferença, para examinar as práticas discursivas que circulam nesses documentos e que implicam em modos de como fazer educação, em escolas de Educação Infantil, quando se enfoca o conceito de pensamento atravessado pelo discurso do interesse no contemporâneo. Além dos conceitos de pensamento e de interesse, os quais norteiam toda a pesquisa, outros também foram trabalhados neste estudo, tais como: educação infantil, crianças, infâncias, tempo, ócio e experiência. Para o embasamento da dissertação, foram utilizados os estudos de Foucault, López, Kohan, Larrosa, Saballa, Dornelles, Bujes, Horn, Corazza, Ribeiro, entre outros. Produziram-se, dessa forma, análises mapeadas pela datação dos documentos a fim de observar as regularidades e deslocamentos nas relações entre infância e pensamento quando fortemente atravessadas pelo discurso do interesse, conforme apontado a partir do exame desses textos. Com base nesse movimento analítico e com inspiração na análise do discurso foucaultiana, observou-se uma força das práticas discursivas acerca dos interesses das crianças como o outro do pensamento quando tomado dentro de uma perspectiva filosófica da diferença. Desse modo, constatou-se que tais documentos marcaram a garantia de direitos de eminente importância para as crianças, como o direito à aprendizagem, à ampliação do repertório cultural e à liberdade de pensamento. Entretanto, também se verificou que tais materiais, implantados em meio a muitas lutas políticas, operam o pensamento como resolução de problemas a partir de uma lógica da recognição, com uma lógica neoliberal do interesse que vai cada vez mais se deslocando para um interesse individual do sujeito empreendedor de si e de uma sociedade do desempenho, com foco no registro da produção das crianças, produzindo, assim, modos de se relacionarem com o pensamento neste espaço que é a escola de Educação Infantil. Com isso, buscou-se pensar um respiro em meio às brechas encontradas, não para denunciar, mas para tomar a potência do pensamento em escolas de Educação Infantil quando atravessadas pela necessidade do tempo do ócio e da experiência do pensamento.