Resumo:
Este trabalho aborda a estética fenomenológica a partir de conceitos desenvolvidos por Edmund Husserl, como imaginação, fantasia, intuição eidética, ficção e percepção. A estética fenomenológica é, em grande medida, associada à tradição fenomenológica francesa, tendo como grandes representantes Maurice Merleau-Ponty e Mikel Dufrenne. No entanto, partimos do núcleo conceitual já encontrado na constituição originária da fenomenologia para pensarmos os caminhos teóricos que resultaram na fundação da estética propriamente fenomenológica. A crítica husserliana ao positivismo e ao psicologismo, na formulação da sua teoria do conhecimento vinculada à lógica, funda um método de análise direcionado para os objetos intencionais constituintes de toda experiência consciente e que, portanto, correspondem aos objetos correlatos vinculados à estrutura que constitui a consciência transcendental, a saber, a intencionalidade, com a qual é abolida a visão dualista de divisão entre consciência e mundo, sendo essa condição um dos modos de ser da própria experiência estética. Assim como a proposta de uma subjetividade transcendental que, ao contrário do que esses conceitos possam sugerir, não incorre em um idealismo radical e, por isso, a fenomenologia, desde as suas bases husserlianas, pode contribuir com a Estética
no que se refere à reflexão sobre as próprias condições da experiência estética dos objetos. Da mesma maneira, são importantes os conceitos de intuição eidética, consciência imaginativa, bem como a centralidade das noções de fantasia e ficção para o projeto husserliano de uma análise fenomenológica do transcendente e do mundo circundante. Com base nesse contexto teórico, a experiência estética corresponde à vivência fenomenológica a partir das noções comuns, já mencionadas e intimamente relacionadas, como a imaginação, a fantasia e mesmo a ficção, elemento que possui um papel privilegiado na análise dos fenômenos transcendentes e que legitima, juntamente com a imaginação, as experiências estética e fenomenológica como experiências de autorreflexão com base em elementos duradouros efetivados pela imaginação e pela intuição. A consciência pública que constitui essa análise está diretamente comprometida com o estabelecimento de um modelo de investigação metafísico que encontra nas próprias capacidades intuitivas e imaginativas da consciência os seus componentes condutores até a fundação do conhecimento eidético, ou ainda, das condições necessárias para que a modalidade de relação intencional que caracteriza a experiência propriamente estética da obra de arte permita a análise descritiva dessa mesma relação, a qual resultará no desvelamento do ser do objeto estético. Portanto, é no contexto da intencionalidade, isto é, da correlação entre consciência e objeto estético, que acontece a vivência imaginativa fenomenológica, que, aqui, é tomada como sendo semelhante à experiência estética.