Resumo:
No decorrer da história do curso superior de Pedagogia no Brasil, muitos foram os usos feitos da literatura atravessados por diferentes relações de saber e de poder. Objetivou-se, nesta pesquisa, perceber de que modos a literatura emerge em um curso de Pedagogia, bem como de que modos seus usos atravessam a constituição desses estudantes aspirantes a essa carreira, a partir de um curso de Pedagogia de uma universidade do estado do Rio Grande do Sul. Foram analisadas as caracterizações das disciplinas desse curso desde sua fundação até os dias atuais (1957-2012), e, também, foi realizado um encontro de grupo focal com acadêmicos matriculados nos 6º e 7º semestres nessa universidade. Com base na sistematização desses dados empíricos e na análise feita com inspiração arquegenealógica a partir dos conceitos de subjetivação e literatura em Michel Foucault, foi possível estabelecer quatro modalidades que falam sobre como a literatura foi utilizada, nesse contexto acadêmico, no decorrer de mais de seis décadas de existência de curso, sendo elas denominadas de: literatura filosófica, literatura militarizada, literatura terapêutica ou de outra sensibilidade e literatura para o ensino. Percebe-se, assim, algumas regularidades e deslocamentos, podendo-se destacar aqui a leitura de literatura tomada a partir de figuras de mestres deslocando-se para a forte entrada do viés metodológico, com foco no ensino de literatura para crianças por volta da década de 1980 e, mais contemporaneamente, para uma relação de autoajuda com a literatura como amortecimento da vida e da relação consigo. Destaca-se, ainda, que algumas brechas se operam nas práticas acadêmicas, quando da investida em alguns estudos sobre a literatura, sobre o olhar, e também por meio de específicas práticas docentes.