Resumo:
O presente trabalho trata do primeiro, maior e mais duradouro empreendimento produtivo da história do Amapá. Ou seja, a mineração de manganês de Serra do Navio, operada pela Indústria e Comércio de Minérios S/A (ICOMI). O objetivo que engendrou a pesquisa foi analisar como a ICOMI formou em pouco tempo um modelo de trabalhador, como criou e aplicou um conjunto de normas que impunham o modelo ideal de comportamento e como esse modelo colaborou para a representação social deste trabalhador que permeou e ainda permeia a memória dos envolvidos no projeto ICOMI. Para tanto, foi necessário contextualizar o processo de produção mineral na Amazônia para poder compreender como foram criadas representações de um trabalhador ideal através dos meios de comunicação da empresa. Também se analisou os vínculos existentes entre a organização da vida social, através das vilas e do seu complexo social e as formas de poder disciplinar no curso da exploração do manganês no Amapá para entender como todos esses mecanismos excederam os limites do mundo do trabalho extrapolando para além das condutas e memórias individuais e se constituindo representações sociais que passaram a integrar e constituir a memória não apenas de ex-funcionários e familiares mas do povo amapaense. O recorte espacial apontado é o raio de ação dessa mineradora dentro do Amapá, mais enfaticamente a Estrada de Ferro, o Porto de Santana, que servia de base logística para o escoamento do minério, e as vias que davam acesso às minas, bem como a Vila Operária da ICOMI, Vila Serra do Navio e a Vila Amazonas. O ano de 1960 é escolhido como recorte cronológico para início da pesquisa, posto que é nesse ano que as vilas operárias são concluídas, consequentemente o ano em que os trabalhadores começam a se alojar nas casas, e as vilas tornam-se, assim, mais um aparato na vida prática de cada indivíduo, bem como é nesse ano que praticamente toda a infraestrutura da mineradora foi concluída. A pesquisa se prolongará até 1973 por ser o ano de maior índice de reelaboração das Normas de Procedimento. Para tanto, fez-se necessária uma breve análise sobre a teoria do poder disciplinar de Michel Foucault.