Resumo:
A tese objetiva compreender a construção de saberes envolvidos e desenvolvidos em uma cosmologia de parto/nascimento “na tradição”, presente em um espaço alternativo ao modelo médico-hospitalar predominante na sociedade contemporânea. A base empírica dessa tese embasou-se no acompanhamento das atividades desenvolvidas pela roda de casais e gestantes do espaço Flor da Vida, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A proposta conhecida como parto “na tradição” envolve a realização de um parto/nascimento que considera tanto a experiência de quem pare quanto a de quem nasce como um evento espiritual. Sua definição como “na tradição” é uma referência ao modelo de ensinamentos e procedimentos a partir de uma parteira tradicional, que ensina seus conhecimentos, vinculados à prática de “ajudar a parir/nascer” a outras parteiras que seguem “na” sua tradição. Os resultados dessa trajetória investigativa estão organizados da seguinte forma: inicialmente apresento a discussão teórico conceitual que embasa as análise realizadas, especialmente a noção de cosmologia do parto/nascimento e apresento as categorias analíticas orientadoras da pesquisa: Intervencionismo, tecnicismo e medicalização do parto; as relações entre Ecofeminismo e Educação e a noção de empoderamento em perspectiva feminista. Na sequência, abordo a atuação do Centro Ativo de Integração do Ser/CAIS do Parto e da Escola de Saberes, Cultura e Tradição Ancestral/ESCTA, procurando analisar o impacto de seu ativismo na defesa da parteria tradicional e na formação inicial e continuada de parteiras e doulas “na tradição”. A seguir, apresento as considerações sobre o acompanhamento realizado no campo empírico, abordando a trajetória formativa de parteiras e doulas “na tradição” da ESCTA; a concepção de missão espiritual dessa parteria; as concepções e vivências dessa cosmologia e sua abrangência para além do parto; a organização da parteira tradicional no Rio Grande do Sul e finalizo procurando analisar os novos horizontes de outra cultura do parto e do nascimento em difusão no ambiente urbano contemporâneo. Conclui-se que o parto e o nascimento, assim como a gestação dentro das reflexões a partir da roda Flor da Vida ampliam as percepções dos pensamentos e das práticas da área da 8 Educação, mas que os seus saberes e conhecimentos educativos se encontram no fazer de um pensamento interdisciplinar que é também um saber pedagógico, considerando o olhar sobre a espiritualidade, e a inteireza do ser no momento do parto e do nascimento.