Resumo:
Esta dissertação apresenta um estudo sobre a instituição escola, problematizando o tempo e o espaço contemporâneos em sua articulação com o currículo. Tal estudo foi desenvolvido em uma escola de ensino fundamental do município de Porto Alegre, e buscou analisar de que formas as relações tempo/espaço contemporâneas são percebidas no cotidiano escolar pelos professores dessa instituição, e como tais relações afetam o currículo. A investigação se deu a partir de três eixos: tempo, espaço e currículo; e como ferramentas metodológicas utilizaram-se grupo focal e entrevistas, complementadas com a análise de alguns documentos da instituição. Este trabalho está organizado em três partes: “Apresentando a pesquisa ou escolhendo os retalhos”; “Compondo a pesquisa ou juntando os retalhos” e “Apresentando a proposta de intervenção ou entregando a colcha”. A composição do texto com a utilização da metáfora da tecitura constitui-se como um elemento-chave neste trabalho, aproximando a pesquisa da artesania, cujos destinos não se podem prever. Isso está relacionado à temática; à ideia de suspensão do tempo, proposto por Larrosa, Masschelein e Simons; e à de trama histórica, de Veyne. Assim, na primeira parte, esta dissertação expõe o cenário da investigação e articula a trajetória da pesquisadora com as indagações de pesquisa; mostra outros estudos que tratam dessa temática; e apresenta a definição do problema e a metodologia empregada. A segunda parte faz um mergulho histórico na Modernidade, mostra como se dá a emergência do sujeito moderno e a constituição da maquinaria escolar. Também aborda as inquietações desta pesquisa: com o tempo, em que faz reflexões a partir dos estudos de autores como Elias, Bergson e Bauman, e de conceitos como duração, solidez e liquidez; com o espaço, que traz algumas questões sobre o esquadrinhamento do espaço escolar, a docilização e disciplinamento dos corpos, dialogando com autores como Foucault, Veyne, Gallo, Noguera-Ramírez; e inquietações com o currículo, que faz um histórico do currículo e estudos sobre ele, e problematiza alguns aspectos que se tornaram normatizados e normalizados, em que autores como Veiga-Neto, Silva, Corazza, Deleuze, Guattari, Lopes, Lopez-Ruiz contribuem significativamente para tais questionamentos. Nessa parte encontram-se as análises das falas que se deram no grupo focal e nas entrevistas. A terceira parte da dissertação apresenta uma proposta de intervenção, cuja escolha se deu no grupo focal: a formação de professores. Por fim, constatou-se que os sujeitos investigados percebem a escola como um espaço potente, porém percebem-se atropelados pela velocidade, fluidez, insegurança, excesso de atribuições e burocracias. Por isso, a formação é vista como de fundamental importância para o grupo pesquisado, constituindo-se como um espaço potencializador para que a contemporaneidade possa ser compreendida e, a partir disso, o currículo escolar possa ser (re)pensado. Assim, a formação configura-se como uma possibilidade de enfrentamento aos desafios que se colocam aos professores e às escolas, com o imperativo da produtividade, em que os currículos voltam-se, cada vez mais, a resultados.