Resumo:
Nesta tese são analisadas as estratégias de participação na política de assistência social com perspectivas em Paulo Freire, percebendo em que medida elas contribuem ou não para o entendimento da participação enquanto princípio. Metodologicamente, a pesquisa caracterizou-se como um estudo de natureza qualitativa, inspirada na pesquisa ação e pesquisa participante. A coleta dos dados se deu através da observação, análise de documentos, grupo de reflexão – grupo de trabalho e entrevistas. No decorrer das entrevistas e das análises, a pesquisa contou com o apoio de dois pesquisadores colaboradores ou “critical friends”. O fundamento teórico principal foi Paulo Freire e o campo empírico a Secretaria de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Novo Hamburgo, RS, onde 41 trabalhadores do segmento da gestão colaboraram, diretamente, na função de sujeitos, onde a pesquisadora também se inclui. A pesquisa foi conduzida de modo a levantar quais os elementos que explicitam o entendimento da participação enquanto princípio, a partir das estratégias de participação, na política de assistência social, numa perspectiva freiriana. As análises permitiram concluir que: 1) a pesquisa em si revelou-se potencialmente formadora com significativa contribuição da academia; 2) investigar do ponto de vista da pesquisa ação e pesquisa participante exigiu um esforço para atravessar uma visão “egocêntrica” devido à forte identificação afetiva com o campo empírico do qual a pesquisadora também era parte; 3) a teoria de Paulo Freire mesmo não sendo diretamente explicitada nos documentos analisados, é identificada na compreensão de autores da área do Serviço social, de atores que expressam seus pensamentos nas conferências, da CF e da LOAS e no discurso dos sujeitos colaboradores, sendo também manifestada nos fins da política de assistência social e continua no horizonte como inspiração, como dimensão utópica para as práticas; 4) as estratégias de participação contribuem para o entendimento da participação como princípio. Contudo, identificaram-se também resistências em romper com formas coercitivas e tentativas de cooptar o controle social. Diante da relevância e da qualidade da contribuição dos pesquisadores colaboradores explicitada nesta pesquisa recomenda-se aprofundar esta alternativa para avaliar a viabilidade da sua incorporação nas pesquisas de natureza qualitativa com abordagens em pesquisa ação e pesquisa participante. Para que o princípio da intersetorialidade, que desafia à maior proatividade da assistência social, se torne efetivo, sugere-se que se inicie com uma discussão da territorialidade em diálogo com as demais secretarias. Por fim, a autonomia e o respeito como elementos indiscutíveis das experiências humanas, o compromisso com a difícil tarefa de humanizar o humano, a disponibilidade para a arte de dialogar e aprender, a liberdade como princípio máximo das práticas democráticas e as compreensões multifacetadas da participação foram temas e conceitos suscitados no diálogo com o campo empírico, dando indícios para uma pedagogia da participação, sinalizando também novas possibilidades de pesquisa.