Resumo:
A Tese tem como objetivo analisar como a escola e, em particular, a matemática escolar, operavam como parte dos processos de subjetivação de escolares descendentes de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, no período da Campanha de Nacionalização. De modo mais específico, identifica, nas enunciações dos entrevistados, rituais escolares que operavam como tática de manifestação da verdade de que “os alemães são superiores” e analisa esses rituais. Discute, também, os rituais da matemática escolar nos quais a tática da manifestação da verdade operava, analisando os jogos de linguagem matemáticos que estavam presentes nesses rituais, como eram ensinados e que conhecimentos matemáticos eram transmitidos. As ferramentas teóricas do estudo estão vinculadas às teorizações de Michel Foucault e de Ludwig Wittgenstein. O material de pesquisa consiste em narrativas de sete pessoas que estudaram em escolas da imigração alemã no Rio Grande do Sul, no período da Campanha de Nacionalização. Os principais resultados da investigação apontam que o Deutschtum operava na vida dos imigrantes alemães e seus descendentes, subjetivando-os de modo a se perceberem como colonos na qual a descendência alemã era priorizada. Foram identificados três rituais escolares que operaram em favor do discurso de manutenção do Deutschtum e como uma tática de manifestação da verdade de que os alemães eram “indivíduos superiores”. Sobre a matemática escolar, constatou-se que para os familiares dos participantes da pesquisa era importante que seus filhos dominassem as regras e os jogos de linguagem da matemática escolar, para, com isso “honrar” sua descendência alemã e preservar o Deutschtum. Também foi possível identificar dois rituais da matemática escolar que operavam como forma de reforçar a manifestação da verdade de que os “alemães eram superiores”. O primeiro ritual tratou da realização de exercícios nas aulas de matemática e se observou que as listas de exercícios eram extensas e apresentavam questões que os professores esperavam/exigiam que os alunos aplicassem as mesmas regras gramaticais e os mesmos jogos de linguagem ensinados na explicação e nos exemplos apresentados, os quais eram marcados pelo formalismo e pela abstração da matemática escolar. Apropriar-se dos jogos de linguagem da matemática escolar era valorizado tanto pelos professores, quanto pelos familiares, conduzindo os escolares a considerar que saber a matemática escolar era condição necessária para que fossem identificados como “bons alemães”. O segundo ritual da matemática escolar se centrou na prática de realização de contas consideradas “difíceis”. Aqueles alunos que as realizavam corretamente eram posicionados como inteligentes e exemplos a serem seguidos; eram reconhecidos como “alemães de verdade”, uma vez que consideravam a matemática como uma disciplina de difícil aprendizagem. Esses resultados oferecem elementos que permitem inferir que, nas formas de vida da imigração alemã no Rio Grande do Sul, no período da Campanha de Nacionalização, era assumida como uma verdade que os descendentes alemães eram “indivíduos superiores”, sendo a matemática escolar utilizada para reforçar tal manifestação.