Resumo:
Este trabalho busca compreender as relações que se estabeleceram entre os índios da Pampa sul bonaerense e os “espanhóis” em meados do século XVIII. Os índios “pampas e serranos” se encontravam fora da jurisdição das autoridades de Buenos Aires, mas os séculos de contato anteriores com os ocidentais, bem como com os grupos “transcordilheiranos”, haviam transformado a pauta cultural, social e econômica destes nativos. O Rio Salado tinha se constituído, neste período, em uma fronteira natural entre estes indígenas e os ocidentais de Buenos Aires e suas hinterlands. Em 1740, as relações que eram relativamente pacíficas entre esses dois mundos, mudaram radicalmente. Os criollos passaram a buscar expandir suas propriedades nesta “tierra adentro”. Para viabilizar tal expansão, eles utilizaram diferentes políticas com as populações indígenas da área, como as missões, os tratados e a militarização da fronteira. Assim, ao analisar este microcosmo do império espanhol procuramos apreender como os índios se posicionaram diante da conjuntura assim aberta, principalmente com relação às três reduções implantadas pelos jesuítas na área. Essas missões são consideradas aqui como parte de uma realidade maior, que é a da fronteira. Para a construção da narrativa que comporá este trabalho, acompanharemos a trajetória de um cacique serrano, “Cangapol”, também conhecido pelos espanhóis como o “Bravo”, que foi protagonista de importantes eventos neste espaço nos Setecentos. O cacique “Bravo” aparece como um dos agentes motivadores para a constituição das reduções, assim como, após o estabelecimento das mesmas, ele surge novamente impondo condições para que elas se mantenham e, finalmente, seus ataques acabam destruindo os pueblos. Através deste personagem, que nos servirá de argumento narrativo, examinaremos este panorama fronteiriço de forma a pensar os índios como sujeitos históricos deste processo. A metodologia para este trabalho será de leitura da literatura de referência e da pesquisa em fontes primárias. Elas serão analisadas a partir de aportes teóricos atuais que sugerem a pertinência de darmos relevância à agência indígena.