Resumo:
Este estudo apresenta o resultado de uma investigação sobre a escolarização de alunos com autismo, tendo em vista as condições de possibilidade sob as quais essa escolarização tomou forma e se articulou como um imperativo pós-políticas públicas de inclusão. Partiu-se inicialmente, de um estudo sobre as narrativas produzidas pelos discursos clínicos sobre esses sujeitos, na tentativa de apontar para um entendimento sobre esse saber médico que foi se consolidando ao longo da história das civilizações. Realizou-se também um deslocamento histórico sobre as origens da escola, o que possibilitou compreender como o sujeito com autismo foi sendo constituído, inicialmente, a partir de aparatos sociais para o seu isolamento no final do século XIX (asilos, hospitais psiquiátricos) até a sua inclusão em escolas regulares no século XXI. Partindo desse cenário de universalização da educação é que apresento algumas problematizações sobre como vem se efetivando a escolarização de alunos com autismo na escola regular. Para tal, busco investigar esse processo, a fim de compreender de que modo as práticas pedagógicas direcionadas a esses alunos se instauram como regimes de verdade. Para tanto, optou-se por analisar entrevistas realizadas com profissionais da sala de aula regular e do Atendimento Educacional Especializado (AEE), ambos os professores de alunos com autismo. A fim de potencializar o estudo, buscou-se um cruzamento dessas entrevistas com os pareceres pedagógicos emitidos por esses professores. Acrescentou-se também ao estudo as conclusões de três pesquisas produzidas nos programas de pós-graduação brasileiros no período de 2008-2011, que tratam da escolarização de alunos com autismo. Como lentes teóricas desenvolveu-se um cuidadoso estudo a partir das proposições de Michel Foucault naquilo que foi possível apropriar-se, realizando um diálogo com a Educação. A pesquisa detectou que a socialização de alunos com autismo é a principal dimensão trabalhada pelos professores e que o fato desses alunos “não realizarem as atividades como os demais”, faz com que o professor busque, na maioria das vezes, um diagnóstico que reitere esse posicionamento, sinalizando para um aluno com poucas condições de aprendizagem dos conteúdos pedagógicos. Veremos que a escola é resultado de uma construção histórica que nasceu na Modernidade e que apesar de um discurso inclusivo, apresenta-se na contemporaneidade com lacunas para trabalhar com alunos com autismo, firmando-se como um espaço que exclui aqueles tidos como “anormais”.