Resumo:
Esta pesquisa investiga tensionamentos entre Educação Geral e Formação Profissional na configuração dos currículos do curso Técnico em Agropecuária de nível médio do IFRS – Campus Sertão entre 1963 e 2008. O objetivo é analisar o processo de alterações curriculares para identificar e descrever o jogo de forças envolvidas nos tensionamentos entre as disciplinas de Educação Geral e as de Formação Profissional, considerando: a disputa de território entre elas, as relações de poder envolvidas, as influências das diversas políticas educacionais e as transformações institucionais, além de demais elementos singulares daquela realidade escolar, com diferentes intensidades em cada momento histórico. Em perspectiva mais ampla trata-se de avaliar indícios de um conflito histórico que tem perpassado a educação profissional no Brasil envolvendo um currículo polarizado entre as humanidades e a ciência e tecnologia, no dilema: “formar cabeças ou braços”? A metodologia considera alguns elementos tributários de análise, como: as transformações ocorridas na estrutura curricular, tanto quanto ao número de disciplinas de cada área bem como relação do peso da carga horária entre as duas áreas, as mudanças na legislação da educação profissional e as concepções presentes na história da educação profissional: capital humano, sociedade do conhecimento e a pedagogia das competências. Para tal, as fontes são basicamente documentais: atas de Reuniões Pedagógicas, de Reuniões de Professores, dos Conselhos de Classe e do Conselho de Professores, os Projetos Pedagógicos de Curso e as Grades Curriculares. Buscando fazer aproximações aos conceitos de Stephen Ball e Michel Foucault, entre outros autores, o contexto da micropolítica da escola é encarado como espaço reprodutor, transformador e/ou construtor de políticas educacionais considerando as relações de poder. A partir da pesquisa, foi possível identificar e descrever elementos do jogo de forças entre Educação Geral e Formação Profissional, onde os debates - e respectivas tentativas de integração - colocaram-se de forma mais idealizada do que efetiva. Verificou-se que currículos foram estruturados a partir de disputas de território e de poder, com tensionamentos multicausais, nem sempre explícitos, englobando: políticas educacionais, concepções sobre formação profissional, estratégias dos segmentos envolvidos e mudanças institucionais. Em síntese, as discussões sobre “o quê” ensinar e sobre qual o conhecimento “válido” e “não válido” permearam as disputas em torno do currículo no IFRS – Câmpus Sertão. De fato, um debate ainda não resolvido no cenário educacional brasileiro, e que tem como pano de fundo a questão sobre qual o perfil do aluno a ser formado ou, da própria função da escola.