Resumo:
A presente Tese tem por objetivo problematizar como os discursos, que circulam na ANPEd no período de 1990 a 2010, instituem verdades que caracterizariam práticas pedagógicas que constituem alunos e sujeitos surdos na escola e na sociedade Contemporânea. Para tanto, operando-se com os conceitos de discurso e normalização, sob inspiração genealógica foucaultiana, realizou-se uma análise em 57 trabalhos distribuídos na ANPEd em dois GTs: 54 trabalhos do GT da Educação Especial e 3 trabalhos do GT dos Movimentos Sociais, Sujeitos e Processos Educativos. A partir daí, foi possível compreender duas unidades de análise, que foram assumidas nesta Tese como dois movimentos entrelaçados de condução de condutas dos surdos. O primeiro movimento refere-se ao artefato linguístico/cultural como um imperativo pedagógico, em que a língua é vista como condição de possibilidade para que seja garantida a aprendizagem, o desenvolvimento, a igualdade de oportunidades, a integração e a inserção do surdo na comunidade surda, na escola, na sociedade e no mercado de trabalho. Nesse sentido, os alunos e os sujeitos surdos não só são produzidos para assumirem a centralidade do conhecimento linguístico como condição para sua inscrição na escola e na sociedade, como também são incitados a buscar formas de condutas, de comportamentos que coloquem essa centralidade em funcionamento. Tal busca, ao promover a circulação e a permanência dos sujeitos surdos na escola e no mercado de trabalho, está condicionada às competências surdas gestadas pelas práticas pedagógicas e instituídas por políticas governamentais, por saberes produzidos pelos especialistas da área e pelo funcionamento da própria escola na sociedade. Dessa forma, desenha-se o segundo movimento, que se refere às competências surdas. A escola, como um dos principais loci de produção de sujeitos, ao investir no outro, incita-o a cada vez mais investir em si para que assuma competências que o coloquem no jogo neoliberal de participação e permanência no mercado de trabalho, tornando-o, então, um sujeito eficiente e capaz de gerar lucro. Com tais aparatos, o sujeito é conduzido na escola e na sociedade, considerando-se o modo como um indivíduo economicamente ativo faz uso dos recursos de que dispõe e tende-se em vista a constituição de sujeitos cada vez mais empreendedores de si, ou seja, sujeitos surdos concentrados, criativos, ativos e produtivos.