Resumo:
Esta pesquisa propõe-se a mostrar que a vítima tem potencialidade para ser sujeito ético e que esta potencialidade se revela como desafio para a construção de uma proposta de ética a partir da condição da vítima, o que exige a formulação de novos referenciais éticos de racionalidade e de subjetividade. Esta tese central é desenvolvida a partir de referenciais filosóficos buscados na tradição: de um lado aqueles que advogam a necessidade e a inevitabilidade da vítima e produziram uma racionalidade vitimária, representados pelos discursos de G. Sepúlveda, J. Locke e F. Nietzsche; de outro, aqueles que defendem a historicidade da produção da vítima e desenvolveram um pensamento crítico que aponta para a superação da condição da vítima, com W. Benjamin, P. Freire e E. Dussel. Os primeiros se oferecem à crítica destrutiva enquanto os outros elaboraram um pensamento crítico. Desse exercício colhemos bases para uma racionalidade ética a partir da condição de vítima que se torna referencial epistêmico para pensar uma nova subjetividade ética. O objetivo de construir e sistematizar referenciais para compreender a subjetividade ética emergente a partir da vítima, assim como a indicação das condições e das dimensões constitutivas desta subjetividade se apresenta como tarefa de pesquisa. Neste sentido, se tematiza o reconhecimento e a responsabilidade como referenciais constitutivos da nova subjetividade e se trabalha a vida, a participação e a organização como condições de afirmação da subjetividade, junto com a corporeidade, a singularidade e a dignidade como dimensões desta nova subjetividade ética. A pesquisa também discute as exigências éticas decorrentes da subjetividade ética da vítima, considerando a relação com a história, a pedagogia e a política, indicando a necessária complementaridade da ética. A pesquisa conclui afirmando que, considerando os subsídios trazidos pela tradição filosófica e apresentados no estudo das várias posições, é possível reconstruir uma racionalidade ética que assuma a vítima com potência para agir historicamente, compreendendo-a como um sujeito ético desde o qual é possível auferir condições para que uma nova racionalidade e uma nova subjetividade ética emerjam a partir da condição da vítima.