Resumo:
A dissertação de mestrado problematiza os discursos sobre disciplina escolar produzidos e colocados em circulação pela produção acadêmica contemporânea da área da Educação. Seus objetivos foram: a) descrever e analisar os discursos sobre disciplina escolar colocados em circulação pela produção acadêmica da área da Educação nos últimos vinte anos; b) buscar identificar nesses discursos regularidades e raridades enunciativas que podem proporcionar a descrição de uma suposta ordem discursiva sobre a disciplina escolar. O corpus empírico da pesquisa foi composto pelas teses e dissertações sobre disciplina escolar publicadas de 1992 até 2012. Para analisar essa gama de materiais, extraí contribuições teórico-metodológicas da produção foucaultiana, sobretudo sobre disciplina e discurso. Dessa forma, o referencial teórico da pesquisa constituiu-se, fundamentalmente, pelas obras de Foucault e por autores que levam adiante seus estudos. O cruzamento das ferramentas e dos materiais analisados possibilitou a identificação da existência de uma ordem discursiva que regula a produção, a natureza e a circulação dos discursos sobre disciplina escolar na produção acadêmica. Ordem que aceita como verdade a identificação da disciplina como algo negativo, relacionada à dominação, à submissão, à privação de liberdade, de movimento, de capacidade de criação, de espontaneidade, assim como à inadequação ao contexto atual e ao modelo de educação libertadora, que fomos convencidos a almejar como modelo ótimo de educação. Da mesma forma, essa ordem discursiva aceita a possibilidade de uma nova disciplina que não tenha como objetivo a fabricação de corpos dóceis e submissos. Disciplina essa, que seria um caminho para a aprendizagem, e que teria como base regras flexíveis e consensuais. A identificação dessas “verdades” permitiu que fosse possível demonstrar que, tanto a aproximação da disciplina a questões negativas, quanto o apagamento existente em relação a estratégias metodológicas dessa nova proposta de disciplina, podem estar impulsionando o abandono das possibilidades de ensinarmos às crianças os comportamentos que esperamos delas enquanto estudantes, como a própria origem etimológica da palavra disciplina propõe, o que pode estar influenciando, entre outras coisas, o aumento da indisciplina na escola.