Resumo:
Esta tese aborda a experiência escolar de mulheres estudantes do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. São mulheres com trajetórias de estudo e de trabalho variadas, que se encontram em sala de aula e estabelecem interações, cuja especificidade é a mediação pelo saber escolar, ou seja, relações de saber, nas palavras de Bernard Charlot. Desse modo, as mulheres produzem uma experiência escolar específica, na qual mobilizam, confrontam, produzem e (res)significam saberes experienciais de naturezas distintas. O estudo também buscou compreender a partir dos estudos de gênero o modo como as mulheres historicamente aprenderam a não valorizar os seus saberes. A partir da realização de um estudo etnográfico, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar as relações de saber estabelecidas por estudantes mulheres em sua experiência escolar no PROEJA. O trabalho de coleta de dados apoiou-se em observação participante, diário de campo, entrevistas individuais. Uma turma do 4º semestre do Curso Técnico em Administração PROEJA foi acompanhada ao longo de um semestre letivo. A partir desse contato foram realizadas entrevistas com 14 mulheres, alunas da referida turma. Os resultados indicam que os saberes experienciais destas estudantes são oriundos dos tipos de atividade humana em que elas se envolveram fora da escola, ao longo da vida: o mundo do trabalho, a família, a igreja, os meios de comunicação e o espaço público da cidade. A relação de saber no PROEJA, a partir dos dados obtidos no trabalho de campo, apresenta como marcas a circulação de saberes oriundos de diferentes tipos de experiências; a tentativa de aproximação aos saberes escolares por meio da referência a saberes presentes no cotidiano; eventos de tensionamento entre o escolar e o experiencial; o silêncio em relação a determinados saberes; a presença marginal dos saberes das mulheres na sala de aula; e situações que corroboram a permanência da dicotomia e da hierarquização entre o conhecimento escolar e o saber experiencial. A partir de tais reflexões, nossa tese é que a análise das relações de saber estabelecidas por estas estudantes em sua experiência escolar visibiliza os saberes que marcam as experiências – tanto a escolar quanto as não escolares – das mulheres. Desse modo, contribui para o desenvolvimento de práticas educativas emancipatórias das mulheres no contexto escolar.