Resumo:
O presente trabalho é resultado de um processo investigativo com jovens de baixa renda, egressos de uma escola pública de Santa Maria/RS. O objeto de estudo circunscreve-se no seguinte problema: como os jovens de baixa renda em desvantagem cultural e escolar subvertem a lógica antidemocrática do Enem, ao elaborar estratégias de inserção escolar e social? Parto do pressuposto de que o ENEM não é, até o presente momento, uma política democrática que possibilita o acesso de jovens empobrecidos ao Ensino Superior público. Essa questão impõe a incursão em três temáticas fundamentais para a tessitura do trabalho: exclusão/inclusão, juventude e políticas educacionais contemporâneas. O objetivo do estudo é compreender como que estes jovens, localizados em espaços de grande carência social, de posições econômicas e sociais menos favorecidas, identificados a partir de determinados habitus e estilo de vida (Bourdieu, 1989), egressos de escola pública, conseguem subverter a lógica antidemocrática do Enem ao elaborar estratégias de inserção escolar e social. A escolha do objeto e a forma como me aproximo dele, assim como a escolha da escola campo, decorrem, tanto das leituras que compõem o campo escolhido (Sociologia da Educação) como, também, da compreensão dos elementos sociais presentes na minha trajetória de vida. A metodologia utilizada foi a pesquisa participante. Foram realizadas, com os jovens participantes, dez oficinas inspiradas nas experiências de Paulo Freire do círculo de cultura e a opção pelo processo analítico dos resultados das oficinas, foi a sistematização de experiências. A pesquisa coloca, como tarefa o reconhecimento do diferente, do diverso, como fundamento para a afirmação da vida humana. Os jovens constroem possibilidades de experiências além dos espaços escolares e universitários. Nesse sentido, as trajetórias dos jovens que participaram da pesquisa apontam para fenômenos sociais mais amplos, expressam que as experiências e as localizações dos indivíduos, pelo espaço social, não são aleatórios, não se dão por acaso, mas obedecem a forças estruturantes mantenedoras de uma sociedade dividida por classes. A pesquisa perspectiva cooperar com os estudos sobre juventude empobrecida e educação no Brasil, assim como contribuir para a ampliação de espaços democráticos que acolhem e produzem experiências coletivas de novas leituras de mundo.