Resumo:
O estudo investiga o processo de institucionalização de bebês e crianças bem pequenas nas décadas de 1980 e 1990, em Francisco Beltrão, município do sudoeste do Paraná. Tendo como foco práticas e representações envolvendo bebês e crianças bem pequenas na creche, articula história da educação infantil e história da infância, reforçando a escrita de uma história da infância nas creches. Recorrendo a aportes teórico-metodológicos da histórica cultural, faz também uso de recursos teóricos advindos da sociologia da infância. Tais referenciais oferecem uma matriz analítica que permite não só focalizar a dimensão cultural das práticas, como encarar crianças e infância como objeto de pesquisa, considerando a presença ativa desse grupo geracional na sociedade. A pesquisa implicou na recolha de memórias de sujeitos que viveram situações relacionadas ao contexto investigado (profissionais das creches e dos setores da assistência social – DAS/SAS, Associação de Proteção à Maternidade e à infância e Superintendência Regional da LBA), incluindo documentos escritos e iconográficos. Como procedimento metodológico destacam-se a história oral e a análise documental, delas derivando basicamente todo o conjunto de dados empíricos. Para o processo analítico, os mesmos foram subdivididos em quatro eixos interrelacionados: políticas, práticas, culturas e concepções. A pesquisa elucida as especificidades do projeto municipal de creches de Francisco Beltrão e identifica traços de uma cultura da creche naquele contexto. A análise confirma a concepção assistencial/compensatória da década de 1980 na conformação de práticas institucionais, incluindo a influência da Legião Brasileira de Assistência. Constata igualmente o papel desempenhado pela Associação de Proteção a Maternidade e à Infância de Francisco Beltrão. Identifica elementos que compões uma cultura da creche: imagens de infância – a criança pobre, a criança carente, a criança submissa, o bebê biológico, o bebê brincante e o bebê membro do grupo social. Na mesma perspectiva, o estudo analisa: a presença de um grupo profissional marcado pela maternagem; a organização de tempos que se estruturam em rotinas, valorizando os cuidados corporais, diferenciados para cada subgrupo etário. Constata igualmente a estruturação de espaços assinalados pela ausência e pelo improviso, a presença de brincadeira e interações que se revelam como modos característicos de organização de crianças e adultos. Em seu conjunto, a investigação permite depreender que a creche é um lugar heterogêneo, que expressa uma política conformadora de corpos – sinalizada por uma representação de criança pobre e, ao mesmo tempo, revela a expressão de uma cultura do encontro – onde crianças e adultos estruturam formas próprias de brincadeiras e ocupação dos espaços. Nas considerações finais, a argumentação reúne assertivas que acentuam a potencialidade de investigações que tenham como foco culturas de creche.