Resumo:
A finalidade desta pesquisa é analisar os Sistemas de Avaliação em larga escala da Educação Básica empreendidos a partir da década de 1990 no Brasil e na Argentina, bem como as possíveis tensões e os jogosde influência que os contextualizaram. Como a relação Estado, sociedade e educação é construída continuamente, o desenvolvimento do trabalho levou em conta a formação da organização docente e o mapeamento de suas principais lutas em direção à escola pública, democrática e popular. O estudo se perspectivou na triangulação entre as metodologias qualitativa, dialética e comparatista,buscando entendimentos a respeito das aproximações e dos distanciamentos existentes em cada realidade, mas de forma que não inviabilizem um processo dialógico e de solidariedade. O campo empírico é aqui focado nas confederações de trabalhadores da educação – CNTE (Brasil) e CTERA (Argentina). Os instrumentos de coleta in locoe nas páginas eletrônicas embasam a pesquisa documental sobre as Confederações dos Trabalhadores em Educação e suas práticas de insubordinação, as políticas educacionais de avaliação em larga escala, a legislação existente e entrevistas semi-estruturadas com dirigentes destas entidades sindicais. Assim, foi perceptível que estes países durante a década de 1990 lançaram-se a corresponder ao modelo neoliberal mais enfaticamente, enquanto na contraposição, os processos de redemocratização ganhavam força nos movimentos sociais. O projeto neoliberal que aposta numa regulação alicerçada no mercado, em detrimento da comunidade e que dimensiona o Estado para este fim, encontrou na organização docente um referencial importante de contra-hegemonia. Conclui-se que tanto a CTERA quanto a CNTE impingem práticas insubordinativas que buscam um Estado regulador pautado na democracia, no direito e na cidadania. Isto se operacionaliza por meio de processos democráticos que se contrapõem ao neoliberalismo e, balizados pela superação da desigualdade, passam a fomentar e intencionalmente promover a participação popular. Contudo, há um distanciamentoentre as confederações e o estabelecimento escolar, aquelas raramente se veem exigidas a operar sobre tal construção. É possível, por fim, que esta realidadeafirme que os jogos de influência ocorram no nível da formação do texto legal e por isso, tanto as propostas de uma avaliação em larga escala, no sentido de qualificara educação, quanto à constituição de uma política mais democrática, são inviabilizadas, porque são propostas fora do âmbito da instituição escolar. Finalmente, as grandes transformações que são indispensáveis para que a educação seja efetivamente um instrumento de cidadania, democracia e emancipação necessitem da participação efetiva dos atores sociais nela envolvidos.