Resumo:
Este estudo investiga a história do Ensino Rural entre as décadas 1940 a 1950 e sua relação com o processo de desenvolvimento de Culturas Escolares no meio rural. Tem como objetivo construir, historicamente, o processo de institucionalização das Escolas Isoladas públicas primárias municipais da região de Lomba Grande, município de Novo Hamburgo, evidenciando as identidades culturais como construções coletivas que se constituíram na relação plural estabelecidas pelos diferentes grupos sociais. Ao construir os processos de escolarização das duas instituições ainda existentes, a saber, EMEF Bento Gonçalves e EMEF Tiradentes, permitiu a compreensão em relação ao modo como se imbricaram as práticas e as representações sobre uma educação ainda incipiente na estrutura de ensino neste lugar. Esses aspectos estão relacionados à primeira metade do século XX, a partir das Aulas, Subvenções e Escolas Isoladas de classes multisseriadas. A pesquisa implicou na recolha de memória de alunos e professores de Escolas Isoladas dessa localidade, portanto, como procedimento metodológico destaca-se a História Oral e a análise documental histórica, delas decorrendo fundamentalmente todo o conjunto de dados empíricos. As memórias são analisadas na perspectiva do “tempo social”, no sentido que trata Halbwachs, ou seja, pelas relações formais ou informais, por meio de mediações culturais diversas que compuserem os quadros sociais de memórias. Nesse processo se identificou diferentes aspectos de uma Cultura Escolar dinâmica e híbrida que produziu singularidades na comunidade rural de Lomba Grande. Sob o referencial da História Cultural, a análise está estruturada a partir da construção do conceito de lascas. O conceito de lascas assumiu formas plurais e compósitas de constituição. A forma de lasca não encerra uma possibilidade analítica, pelo contrário, ela abre possibilidades e desdobramentos para novas construções. Está sintetizada em três eixos escolhidos para o estudo, a saber: o desenvolvimento de um tipo de cultura institucional que caracterizou um modo possível de estabelecer processos de escolarização; a apropriação de uma cultura de escolarização que identificou um grupo de alunos/professores, bem como, uma cultura profissional de práticas sociais realizadas no cotidiano das Escolas Isoladas e o uso social que foi instituído a partir dos objetos e artefatos da cultura material neste espaço e tempo escolar. Portanto, as Culturas Escolares se caracterizaram como produtos da vida cotidiana, resultado da ação dos grupos sociais que delimitam uma forma de organização. A análise dos dados permite perceber que a escolarização em Lomba Grande foi marcada pela coexistência de iniciativas particulares e públicas. Nesse processo foi marcante a influência da comunidade para ampliar as escolas públicas no interior deste lugar. Quanto à institucionalização escolar, utilizou-se das políticas de Estado, bem como a organização comunitária para ter escolas no interior desta localidade. A construção de uma cultura profissional foi constituída pelas diferentes experiências formativas acumuladas pelos sujeitos. Em relação aos objetos e utensílios percebe-se o uso concomitante da lousa e dos cadernos, da caneta de pena e do lápis, comuns à época. Também se identifica determinadas especificidades, como o “cartapácio”, para nomear a tradicional mochila, o “breiro” para aproveitar o grafite do lápis e a talha para tomar água. As culturas escolares se apresentaram de modo dinâmico, valorizando o processo de tradução cultural evidenciados pelas narrativas sobre as práticas de escolarização. A Escola Isolada, multisseriada, foi à forma predominante nesta localidade, modo possível pelo qual se fez chegar ao meio rural aspectos de uma cultura formal escolarizada.