Resumo:
Este estudo propõe uma análise comparativa acerca dos conceitos de justiça e alteridade ética desenvolvidos por Jacques Derrida e Emmanuel Levinas, tendo em vista uma discussão acerca da im/possibilidade da ética. O objetivo geral é analisar a possibilidade de se pensar numa certa ausência, nos discursos acerca da justiça como critério e condição da própria justiça. O problema central da tese se configura do seguinte modo: se a questão do terceiro é a justiça em Levinas, e se o terceiro se faz presente na relação com outrem, é possível afirmar que o terceiro é uma certa ausência, no sentido derridiano, da presença do outro? Se sim, que possíveis consequências podem ser apontadas na dimensão ética? Em consequência disso, é possível afirmar que a ética é impossível uma vez que a justiça é uma certa experiência do impossível? Mediante uma análise interpretativa das principais obras dos autores em questão, serão apresentadas tanto as bases para a compreensão, se isso é possível, da desconstrução derridiana, quanto o desenvolvimento de alguns pontos centrais do pensamento levinasiano, com o intuito de estabelecer algumas relações de aproximação e/ou afastamento entre os autores estudados. Este estudo se justifica pela necessidade sempre urgente de repensar as condições de possibilidade da ética, pensar não somente os limites impostos, mas explorar a estrutura que torna possível a ética: a justiça, a responsabilidade e a própria decisão no agir. Observa-se que a decisão responsável só acontece no acontecimento do encontro (face a face). O momento da decisão, o momento ético, independe do saber e supõe uma ruptura com a lógica clássica do cálculo. No encontro com o outro, o absolutamente qualquer outro, a justiça acontece na própria experiência e não como um desdobramento de normas e leis que apagam a singularidade do outro, já que a ausência do outro é precisamente sua presença como outro. Uma ausência que não é simplesmente uma presença distante, retardada, ou uma idealidade da representação, mas uma ausência que chama à responsabilidade. A resposta ao outro, na sua ausência/presença, se configura como hospitalidade ilimitada, como um dom; uma resposta que se doa ao outro.