Resumo:
A presente tese analisa a fragilidade que envolve o objeto de estudos alfabetização na formação inicial de professores para o Ensino Fundamental. De forma mais precisa, investe-se em compreender como esse objeto tem se configurado nesses processos formativos e como tal configuração correlaciona-se ao ofício de alfabetizar. Para o desenvolvimento da pesquisa buscou-se sustentação no amplo campo teórico da história da escolarização no Ocidente, assinalando os elementos que estruturaram a emergência da escola obrigatória no Brasil, bem como, o lugar da alfabetização e da formação de alfabetizadores nesse conjunto. O corpus analítico compõe-se de narrativas de alfabetizadoras que atuam, há mais de cinco anos, nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, na rede pública municipal de Montenegro, estado do rio Grande do Sul. A abordagem metodológica empreendida para a produção do corpus empírico valeu-se da entrevista narrativa orientada sobre: 1) os significados que o objeto alfabetização e o ser/estar alfabetizadora assumem para essas professoras, produzindo referências e/ou identificações entre essas profissionais; 2) as bases epistemológicas dominantes que esteiam os saberes práticos e instrumentais dessas alfabetizadoras, dando contornos a esse "lugar profissional"; 3) as implicações de seus processos formativos nas im/possibilidades de sua constituição como alfabetizadoras; e, 4) os elementos que vêm tensionando a experiência cultural de alfabetizar, configurando-a e projetando-a. As análises nutriram-se de elementos da teoria foucaultiana do discurso que, priorizando os procedimentos descritivos, compreende o conhecimento como produção continua e contingente de verdades. Os resultados da pesquisa apontam para a (1) inconsistência da alfabetização na formação de professores, a qual se configura sobre a predominância da abordagem mecânica no ensino-aprendizagem da leitura e da escrita; a frágil inserção do conceito de letramento nesses discursos, os quais não contemplam, minimamente, a amplitude que perfaz a alfabetização na atualidade; e, o apagamento de referências específicas da alfabetização e que são ofertadas pela multidisciplinaridade das ciências que contemplam esse objeto. Compreende-se, assim, que as especificidades da alfabetização são obliteradas por elementos relacionados à docência em sua forma mais ampla e genérica, e (2) o ofício de alfabetizar adquire um status contingente à medida que seu objeto é abordado de forma frágil, tanto na formação quanto na sua prática escolarizada, sustendo-se, predominantemente, nos saberes e crenças sucedidas das experiências dessas profissionais e sob o apagamento de referências associadas às suas especificidades.