Resumo:
Vários países vêm realizando reformas no ensino da graduação objetivando integrar suas funções às necessidades da sociedade, tendo como pano de fundo a produção de conhecimento que preparasse o capital humano para atender a inclusão no circuito da globalização. Este é o caso dos cursos da área da saúde e, no enfoque deste estudo, o Curso de Nutrição. Sem minimizar a importância das habilidades técnicas na formação dos estudantes, essas demandas estão exigindo novas configurações curriculares e distintas práticas educativas. Compreender o exercício profissional do nutricionista, como uma ação eminentemente pedagógica, remete a repensar as práticas acadêmicas vividas na sua formação e o papel dos formadores nesse contexto. Embora se possa considerar esse fenômeno como um processo global, neste estudo foram tomadas experiências de formação nos Cursos de Nutrição de Portugal, da Argentina e do Brasil. No primeiro foi selecionado o Curso de Nutrição da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação- FCNAUP, da Universidade do Porto; na Argentina, a Escuela de Nutrición da Facultad de Medicina, da Universidade de Buenos Aires, e no Brasil, o Curso de Nutrição da Universidade Federal de São Paulo- Campus Baixada Santista. A experiência brasileira foi eleita por caracterizar-se como uma experiência singular no seu aporte curricular e metodológico. As demais escolhas decorrem de estudos realizados em doutorado sanduíche nos respectivos países. A pesquisa assumiu uma condição qualitativa, com inspiração nos princípios etnográficos. Foram realizadas dezessete entrevistas, com docentes, estudantes e egressos, buscando compreender se e como a dimensão pedagógica está presente na formação do nutricionista e se influência os saberes desse profissional. Também foram explorados os documentos legais que incidem na constituição dos três Cursos. No percurso investigativo foi possível observar que os Projetos Políticos Pedagógicos, - enquanto manifestação da organização dos Cursos - procuraram ser o ponto de partida para o desenvolvimento e a inovação curricular, na direção da integração dos conhecimentos e das práticas que valorizam as aprendizagens coletivas. A dimensão pedagógica do profissional nutricionista aparece de forma distinta na legislação e nas propostas curriculares dos três Cursos, nos diferentes países. Enquanto nas Diretrizes Curriculares brasileiras este ponto é enfatizado, nos outros países parece constituir-se num valor para as comunidades acadêmicas, mas expresso com mais nebulosidade na legislação educacional. Provavelmente essa condição é favorecida pela adequação das políticas de educação às políticas de saúde, após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. A constituição participativa do Projeto Pedagógico incide sobre o saber dos professores e engajamento aos seus princípios, como foi possível perceber nas três realidades estudadas. A relação teoria-prática aparece como fundamental na formação, no sentido de favorecer a visão de realidade que embasa o conhecimento e o compromisso dos estudantes. Nesse sentido parece ter sido fundamental o estabelecimento de relações entre Universidade e os Serviços de Saúde que devem agir em conjunto, visando a formação dos futuros profissionais. O processo educativo desenvolvido de forma coletiva, no qual todos os atores envolvidos, docentes, alunos e comunidade aprendem mutuamente, favorece o desenvolvimento da autonomia, dando condições para transformar o indivíduo em um sujeito mais solidário. A pesquisa, que teve a finalidade de investigar os cenários contemporâneos da formação do profissional nutricionista, procurou contribuir para a qualidade dessa formação e ampliar os cenários e possibilidades para uma prática educativa coerente com as demandas de uma sociedade mais justa e de maior bem estar. Apostou no valor da dimensão pedagógica da ação daqueles que trabalham no campo da saúde que, inclui, também, a concepção do conhecimento partilhado e solidário, criando condições para uma conscientização de que a atividade principal do profissional nutricionista é promover a humanização dos indivíduos