Resumo:
Esta tese investiga a fundação e a trajetória da Sociedade Recreativa Beneficente União
Rosariense, construída por um grupo de trabalhadoras negras e trabalhadores negros na cidade de Rosário do Sul, Microrregião da Campanha Central do estado do Rio Grande do Sul, tendo como foco de análise o período de 1915, quando ocorreu a sua fundação, a 1965. Ainda que a Sociedade União tenha se mantido ativa até 2018, o recorte temporal final desta pesquisa foi estabelecido para que se percebesse como se deu a sua constituição até 1965, ano que marcou a inauguração de uma nova sede para o clube e a partir do qual as suas atividades recreativas foram intensificadas. Verificou-se que, a partir de então, o espaço deste associativismo negro já não era mais apenas para os seus, mas também para outros segmentos sociais da cidade, o que demandaria outras análises que considerassem essa nova conjuntura. Esta investigação foi realizada a partir do aporte teórico-metodológico da História Social, com inspiração na microhistória e tendo como perspectiva o campo de observação do pós-Abolição. A análise está baseada na utilização de fontes reunidas a partir de visitas em arquivos históricos e museus, e
também da documentação produzida pela própria Sociedade União Rosariense, como Atas e estatutos, por fotografias guardadas em acervos pessoais de membros do clube e seus/suas descendentes, bem como depoimentos de pessoas relacionadas ao associativismo afrorrosariense, além de documentação eletrônica. Do ponto de vista metodológico, destaca-se a utilização da História Oral como aporte privilegiado para produção, análise, interpretação de dados e informações produzidas por meio de depoimentos concedidos à pesquisadora por associadas e associados desta agremiação. Este estudo evidencia a organização de uma associação de mulheres negras e homens negros com sede própria localizada no centro da vila/cidade de Rosário, na qual suas/seus protagonistas realizavam bailes, festivais culturais, saraus, confraternizações, atividades esportivas e assistenciais numa tentativa de efetivação da liberdade, da cidadania e afirmação de identidade em um contexto racializado. Com um olhar mais atento ao longo da investigação para as intersecções entre raça, gênero, classe, poder e
trabalho, foram observadas experiências nas quais este coletivo negro fortaleceu laços de sociabilidade, solidariedade, identidade e luta cidadã. Dentro da perspectiva de reparação histórica, esta tese sobre a Sociedade União, contribui para uma historiografia que procura conferir visibilidade e historicidade a trajetórias individuais e coletivas de pessoas negras do passado - e do presente - rosariense, rio-grandense e brasileiro.