Resumo:
A presente pesquisa desenvolve um estudo acerca do tema o uso da linguagem na
ambiência do socioeducativo, cujo objetivo geral é analisar e problematizar as narrativas das professoras de Língua Portuguesa a respeito da linguagem oral dos jovens em cumprimento de medida de internação socioeducativa no Estado de Mato Grosso. Ao assumir a perspectiva pós-estruturalista no campo da Educação, compreende-se que a linguagem oral não apenas nomeia, mas principalmente constitui aquilo de que fala. Assim, esta investigação fundamenta-se em autores como Foucault (1997), Skliar (2012), Veiga-Neto (2019), Larrosa (2014). Autores como Masschelein e Simons (2021), Gert Biesta (2020), Rizzini, Irene (2008) e Rizzini, Irma (2011) contribuíram para pensar na relação entre o escolar, a privação da liberdade e a prática pedagógica. Na relação com a Linguística e Sociolinguística, destacam-se os estudos de Pretti (2000); Neves (2003) e Mollica (2009). Ressaltase, neste percurso, a importante etapa de historicização da legislação brasileira acerca do jovem infrator desde o Código de Menores de 1927, passando por “instituições de sequestro” como escola de reforma e escola de preservação, até as medidas socioeducativas implantadas no Brasil a partir de 1990. Em termos teóricometodológicos, trata-se de uma pesquisa qualitativa, a partir de autores como Andrade (2012); Zago (2011); Meyer e Paraíso (2012); Jovechelovitch e Bauer (2008) em que se realizou entrevistas narrativas com quatro professoras de Língua Portuguesa que atuam nos Centros de Atendimento Socioeducativos – CASE’s,
distribuídas em quatro municípios do Estado do Mato Grosso. As análises do material empírico apontam para os seguintes achados de pesquisa: a) o ambiente socioeducativo caracteriza-se, inicialmente, como local de medo e receio por parte das docentes, mas com o transcorrer do tempo a ênfase do olhar sobre as práticas de vigilância e controle, tendem à limitar e pautar a prática pedagógica; b) as narrativas a respeito da linguagem oral perpassam pelo reconhecimento da oralidade como forma de resistência, mas apresentam-se, também, em uma construção tênue entre o valorizar as variações linguísticas (gírias) e subjugá-las; c) as abordagens da linguagem oral por parte das docentes apontam para duas vertentes: o ensino normativo da gramática tradicional e a sociolinguística, havendo uma constante dicotomia entre linguagem oral/linguagem escrita; linguagem formal/linguagem informal; d) por fim, no trabalho pedagógico narrado pelas professoras, percebe-se que há uma subordinação da linguagem oral à linguagem
escrita, havendo uma depreciação com relação às práticas com a linguagem oral. Enfim, o estudo leva-nos a perceber que há muito ainda a ser explorado no trabalho com linguagem oral, principalmente, a evidenciada na ambiência do socioeducativo, onde as professoras por meio de suas narrativas reconhecem a linguagem oral dos jovens como uma manifestação de resistência.