Resumo:
Essa dissertação investiga as relações que podem ser traçadas entre alguns pontos selecionados da obra de Heidegger e outros selecionados da psicanálise freudiana e lacaniana. Devido a vastidão da produção teórica de Heidegger, a dissertação se concentra em pontos levantados no trabalho de Ernildo Stein aonde será esmiuçado a proximidade possível da obra do filósofo com a psicanálise em determinados pontos. Mostraremos que as críticas de Heidegger acerca das teorias freudianas e até mesmo da metodologia psicanalítica partem de um certo desconhecimento do filósofo de que Freud está lidando com o fenômeno do setting analítico e este se impõe como o elemento
fundamental da psicanálise. Discorremos que o constructo heideggeriano Dasein incorpora uma nova maneira de pensar o homem e seu mundo. O conceito de ser-no-mundo retrabalha a posição do ser humano, consequentemente modificando os conceitos de psique, psicologia e consciência. Isso dará substrato maior ao trabalho importante de Freud de questionar os limites dos conceitos da lógica pura e soberana. Propomos que haverá um encontro de ambos autores que vagam por vias diferentes. Freud questiona a primazia da lógica e suas limitações, ao propor o funcionamento da lógica do inconsciente. Heidegger de outro extremo parte para uma reformulação crítica desta psique e consciência, partindo de um trabalho filosófico rigoroso, onde diligentemente debruça-se sobre o pensamento de diversos filósofos. Foco em um ponto: o constructo
Dasein. No segundo capítulo abordo as relações da obra de Heidegger com a obra
de Jacques Lacan. A busca de Lacan de realizar um retorno à coisa freudiana
faz com que ele enverede pelos caminhos da filosofia, trazendo diversos autores
de peso para poder trabalhar mais profundamente o campo psicanalítico. Seguimos os passos de Lacan em seu seminário A Lógica do Fantasma, onde ele argumenta que Freud não faz apenas uma crítica a uma certa postura de prevalência da lógica racional do funcionamento humano, mas que Freud propõe uma nova concepção de uma lógica que funciona de forma diferenciada da lógica racional: a lógica do inconsciente.
A estrutura lógica caracterizada como a relação sexual será a tônica para demonstrar a originalidade do pensamento psicanalítico no campo da lógica. Desbravaremos com Lacan que essa estrutura não pode ser resumida ao simples ato sexual, mas envolve a complexidade lógica produzida no binômio da diferença sexual- e que é negligenciada nas conceitualizações que Aristóteles estabeleceu sobre a lógica. A compreensão das relações inter-humanas necessita obrigatoriamente passar pela estrutura lógica da diferenciação sexual: essa é a hipótese inédita introduzida por Freud e totalmente fundamentada na ética do tratamento terapêutico das psicopatologias. Este campo da lógica formal também será questionado criticamente com a maneira que o constructo Dasein problematiza essa inter-relação da nossa existência no mundo, o ser-no-mundo.
Lacan e Heidegger abrem um campo desconhecido e esquecido desde o estabelecimento dos fundamentos da lógica por Aristóteles no qual o presente trabalho busca lançar uma singela luz.