Resumo:
Em meados do século XVIII havia grandes porções do Império espanhol nas Américas que estavam controladas por índios não submetidos à Coroa espanhola. Tais espaços ficaram conhecidos como “fronteiras”, e se constituíram em fonte de preocupação dos administradores bourbônicos. Estes últimos inquietavam- se tanto com os indígenas independentes, quanto com ataques de países estrangeiros nestas regiões. Em tais circunstâncias, o Império buscava expandir seus territórios, bem como controlar os nativos com diferentes políticas, tais como: missões, tratados e a inserção de militares. Este trabalho tem por objetivo investigar uma destas fronteiras coloniais: a Pampa bonaerense em meados do século XVIII e início do século XIX, período conhecido como colonial tardio. Após uma experiência missioneira “malsucedida”, edificada pelos padres jesuítas, em 1752 a Coroa optou pela “guerra defensiva” na campanha bonaerense e construiu uma série de fortes e fortins com o intuito de conter os ataques dos
índios “pampas e serranos”. Nesta pesquisa, me valerei destes fortes como espaços para
investigar os processos de contato ali operados, dando ênfase a atuação de diferentes agentes, principalmente indígenas, como parte essencial destes mesmos processos. Nestas locais chegavam índios de diferentes grupos que buscavam, entre outros fatores, permissão para intercambiar seus produtos na cidade de Buenos Aires; também era dali que saíam as expedições espanholas para a tierra adentro. Em torno das fortificações muitos caciques chegavam com seus toldos e se instalavam com suas famílias. Estes fortes faziam parte de uma realidade maior que era a da fronteira, e, por isso, não são considerados aqui como zonas de contenção, imposição e regulamentação, pois se constituíam, de fato, em pontos de encontro de pessoas e, sobretudo, espaços de intercâmbios materiais e simbólicos. Por isso, denominamos aquela zona de “fronteira agenciada”, uma vez que, eram os agentes que davam sentido, que atuavam de distintas maneiras naquele ambiente, eles que o conduziram, que estabeleceram meios para viver naquele lugar, que recriaram, reproduziram e criaram conformações culturais. Por este motivo, a fronteira agenciada se converte no locus ideal para analisar as “relações
interculturais”. A metodologia para este trabalho será de leitura da literatura de referência e da pesquisa em fontes primárias.