Resumen:
Este estudo tem como objetivo circunscrever os processos de tecitura das redes de sociabilidade estabelecidas entre os alunos residentes do curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio e o modo como essas redes constituíram uma cultura escolar, com características agrícolas, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO) Campus Colorado do Oeste, no período compreendido entre os anos de 1995 a 2020. Em 1993, foi implantada a Escola Agrotécnica Federal de Colorado do Oeste (EAFCO) no município homônimo visando à formação de Técnicos em Agropecuária para levar conhecimento técnico aos produtores rurais que migraram para a região durante o Ciclo da Agricultura e em suas propriedades praticavam a agricultura familiar. A escola adotava o Sistema de Escola-Fazenda ancorado na tríade Educação x
Trabalho x Produção e, nesse sistema, a residência estudantil foi fundamental para
a formação dos estudantes e a manutenção da escola. A partir de 2008, com a
incorporação da EAFCO ao IFRO Campus Colorado do Oeste o foco foi para o
Ensino, Pesquisa e Extensão, porém o regime de residência estudantil continuou a
existir. O convívio entre os estudantes residentes possibilitou que se estabelecessem o que denominamos, a partir de Simmel (1934), redes de sociabilidade. Essas redes ultrapassaram os limites da escola e cooperaram para a constituição de uma cultura escolar com características rurais/agrícolas. A pesquisa tem como aporte teórico os estudos acerca das instituições escolares e de práticas cotidianas e encontra-se na inter/transdisciplinaridade entre História Cultural, Sociologia e História da Educação. Para atingir os objetivos propostos, a metodologia centra-se na Análise Documental Histórica e na Entrevista Compreensiva. No processo de análise, foi possível entender de que forma se articulavam as ações orientadoras da escola. Verificou-se que, nos primeiros anos
de funcionamento, as regras e normas impostas aos alunos faziam com que todos os ambientes fossem controlados e os estudantes se mantivessem ocupados durante o máximo de tempo possível, de tal forma que as relações de poder conservavam a ordem nos ambientes comuns a todos os estudantes e, também, naqueles destinados à residência estudantil. Conforme os estudantes foram integrando-se ao espaço, passaram a conhecer as estratégias instituídas e começaram a arquitetar táticas para burlar as regras. Na convivência entre Bagaços, Pés Quebrados e Veteranos havia uma hierarquia, entretanto esta também proporcionou uma aproximação entre eles, a partir do momento em que os ritos eram cumpridos. As práticas cotidianas, nos diferentes tempos e espaços da escola, além de estabelecer vínculos entre os estudantes, possibilitaram a tecitura de uma rede de sociabilidade que se fortaleceu a partir dos laços de amizade, das trocas de
saberes, das conversas informais entre os moradores da residência... e tudo isso
consolidou uma cultura escolar com fortes traços rurais/agrícolas.