Abstract:
A presente dissertação propõe-se a investigar a função do olhar na captura da obra de arte tendo como suporte as premissas filosóficas de Maurice Merleau-Ponty e as elaborações psicanalíticas de Jacques Lacan. Com o enlace entre as três áreas do saber: filosofia, arte e psicanálise, pretende-se promover uma aproximação entre os autores em questão, uma vez que mantiveram uma interlocução profícua interrompida na época pela morte prematura de Merleau-Ponty. Ademais, ambos abordaram a dependência do visível em relação àquilo que nos põe sob o olho que vê colocando em cena a fascinação. Sendo assim, tanto o artista quanto o espectador/contemplador podem ser capturados pelo olhar e, por isso, como função do olhar defende-se a tese de que está a serviço de desviar o sujeito do vazio que o constitui atuando como engodo à castração. Para tal, este estudo baseia-se em revisão bibliográfica dos teóricos e nas reflexões da autora apoiadas nas obras dos pintores Paul Cézanne e Claude Monet, além de alguns dados biográficos que corroboram a relação deles com a pintura bem como, algumas fotografias que vão além do valor ilustrativo, mas complementam o texto. No decorrer da dissertação, evidencia-se que o fazer artístico desses pintores, mesmo pertencendo a movimentos diferentes, tem como eixo a função do olhar enquanto um “belo engodo” de tal modo que no campo escópico, o objeto pode apoderar-se de substância tão evanescente quanto a luz para se apresentar ao sujeito do desejo como olhar. Dessa forma, seja no fazer artístico de Cézanne ou no de Monet a função do olhar está no sentido de um encobrimento da castração, ou seja, ela diz respeito àquilo que distrai e trapaceia o sujeito quanto ao desejo para que se mantenha distante da consequência da articulação entre criação e pulsão de morte. Isso pode ser atestado na tentativa incessante de Monet em captar a luz com seu brilho e seus reflexos, ou na necessidade de Cézanne em retratar a cena tal qual seus olhos viam de modo a cristalizá-la. Finaliza-se assim, com a constatação de que a função do olhar coloca em cena a fascinação do artista, mas também do espectador/contemplador e ambos podem ser desviados do vazio constitutivo da castração com a ilusão da completude como função do olhar na captura da obra de arte.