Resumo:
A presente investigação aborda o tema das relações étnico-raciais na educação e tem como empiria os jovens do Quilombo Chácara das Rosas que concluíram o Ensino Fundamental até o ano de 2020. O problema de pesquisa foi definido a partir do questionamento sobre como as políticas educacionais voltadas às relações étnico-raciais impactam na trajetória escolar de jovens do Quilombo Chácara das Rosas – Canoas/RS. Como objetivo geral, a pesquisa busca analisar como as relações étnico-raciais são percebidas e significadas por jovens quilombolas do município em suas trajetórias escolares. A partir do objetivo geral, defino três objetivos específicos: Caracterizar e contextualizar historicamente a organização e luta por reconhecimento do Quilombo Chácara das Rosas no município de Canoas/RS; Compreender a percepção dos jovens acerca das relações étnico-raciais em suas trajetórias escolares; Identificar como as políticas educacionais para as relações étnico-raciais são (re) significadas na formação dos jovens negros. Para responder ao problema de pesquisa, as opções teóricometodológicas se embasam na abordagem qualitativa, utilizando dados de documentos e entrevistas compreensivas (KAUFFMANN, 2013), submetidas a análise de discurso (MORAES, 1999). Referente à análise de discurso, estabeleço conexões entre os conteúdos das entrevistas e as políticas educacionais, especialmente com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana e a Lei n. 10.639/2003 que inclui a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana” no currículo oficial da rede de ensino pública e privada. A fundamentação teórica se fundamenta no diálogo entre os estudos críticos e pós-críticos (SILVA, 2005), na concepção de juventudes inseridas nas epistemologias do Sul (SANTOS; MENESES, 2009). Os resultados obtidos indicaram que a relevância da educação para as relações étnico-raciais é compreendida pelos jovens, porém, possuem contato pontual com a temática por meio da escola, concentrada em momentos específicos em suas trajetórias escolares, o que os fez procurar conhecimentos sobre suas origens culturais por meio da oralidade, em conversas realizadas com seus familiares no interior do Quilombo. As relações étnico-raciais na escola possuem atravessamentos que 6 envolvem a socialização dos estudantes, a formação de professores e demais membros comprometidos com a educação. Além da promoção das políticas educacionais existentes, é perceptível a necessidade da articulação destas e a criação de outras políticas educacionais, especialmente com políticas de currículo e de formação continuada na medida em que as relações étnico-raciais pressupõem mudanças de paradigmas na educação. Os conteúdos, ações e atividades desenvolvidas pela escola influenciam na percepção de jovens negros na percepção de sí e de seu posicionamento na coletividade, portanto, a escola apresenta-se como uma ferramenta potente no combate ou na manutenção de desigualdades, a depender do trabalho desenvolvido. A escola tem ocupado um papel secundário na aquisição de conhecimentos relativos à cultura afro-brasileira e africana nos participantes das entrevistas, revelando o distanciamento entre o que se efetiva na prática e o que é previsto nas políticas educacionais.