Resumo:
Este estudo apresenta como tema a trajetória de jovens egressos de medidas socioeducativas. Pretende-se constatar como fatores de risco e especialmente protetivos influenciaram na trajetória de jovens egressos de medidas socioeducativas privativas de liberdade que deixaram de praticar delitos. Os participantes do estudo foram jovens egressos da Fundação de Atendimento Socioeducativo, que cumpriram medida socioeducativa nas unidades de Porto Alegre e do Vale do Rio dos Sinos. Utiliza-se a modalidade de pesquisa qualitativa realizada, através de entrevistas individuais, observação participante e análise de documentos. Compreende-se que as razões para o envolvimento de jovens com delitos são multifatoriais. Considera-se as trajetórias dos jovens, a partir dos sentidos que atribuem a elas em momentos diversos de suas vidas, abrangendo o tempo passado, o presente e os planejamentos futuros. As reflexões sobre a memória coletiva e suas nuances, como a vivência do tempo, da individualidade e da coletividade auxiliam na compreensão da trajetória dos jovens participantes do estudo. As trajetórias são guiadas a partir dos projetos que dependem dos campos de possibilidades, de seus conhecimentos prévios, constituídos em um espaço de tempo em um contexto social, cultural e histórico. Como resultados, percebe-se que a atuação dos fatores de risco tornou-se mais evidente no momento em que os jovens se envolveram com os delitos. As diferentes vulnerabilidades sociais que estavam enfrentando deixaram frágil a possibilidade de elaborarem projetos para seus futuros, pois apresentavam necessidades que precisavam ser resolvidas de forma imediata. As lembranças em relação à medida socioeducativa revelam, em alguns momentos, sofrimentos devido à rigidez institucional; e em outros, revelam um aprendizado necessário para suas vidas. Este aprendizado ocorreu a partir das vivências proporcionadas nas interações com outros jovens, funcionários, escola, oficinas, cursos profissionalizantes ou estágios. O trabalho em rede articulado entre as políticas públicas, durante a medida socioeducativa, mostrou-se bastante efetivo para garantir direitos e propor ações associadas a realidade dos jovens, possibilitando o trânsito deles por diferentes instituições e serviços. A violência originou situações complexas com as quais os jovens e as famílias tiveram que lidar, desenvolvendo capacidades de transformação, adaptação e compreensão diante das necessidades que surgiram, colocando a família como referência de vínculo afetivo importante. Mostram-se protetoras algumas experiências que são agregadas ao seu estoque de conhecimento anterior e fazem com que tenham recursos para evitar as situações de violência. É fundamental o apoio que recebem de pessoas que vão além de seu papel na institucionalidade e que investem nos jovens de várias formas, estabelecendo vínculos significativos e não os deixando desamparados em momentos de conflitos. A religiosidade, educação e, especialmente, o trabalho constituíram-se como redes de apoio fundamentais para as mudanças dos jovens.