Resumo:
O presente trabalho investiga sentidos sobre trabalho docente e Educação de
Jovens e Adultos (EJA) veiculados e/ou produzidos na série brasileira Segunda
Chamada — apresentada na Globoplay, entre 2019 e 2021, escrita por Carla Faour
e Julia Spadaccini, com direção artística de Joana Jabace —, principalmente, a partir
da análise da personagem professora Lúcia. A pesquisa está fundamentada nos
campos dos Estudos Culturais e dos Estudos em Docência, numa perspectiva
pós-estruturalista. A partir destes campos, a investigação é desenvolvida utilizando o
procedimento metodológico da etnografia de tela (Rial, Carmen, 2005; Balestrin,
Patrícia, 2011; Cruz, Éderson da, 2019). Os principais conceitos que funcionam
como ferramentas teóricas e metodológicas são: docência (Dal’Igna, Maria Cláudia,
2023); cultura e pedagogia cultural (Costa, Marisa, 2010; Camozzato, Viviane, 2014;
Moreira; Antonio; Silva, Tomaz da, 2018a); e, linguagem (Meyer, Dagmar; Paraíso,
Marlucy, 2021). Articulando as ferramentas teórico-metodológicas à produção das
análises, percebeu-se que: (1) a docência é uma ferramenta que permite descrever
e analisar uma pedagogia constituída na série Segunda Chamada, a “pedagogia da
compaixão”; (2) esta pedagogia da compaixão se estrutura a partir de marcas das
teorias críticas educacionais e de um contexto neoliberal que configuram o trabalho
docente e as práticas pedagógicas na EJA; (3) a pedagogia da compaixão pode se
constituir como uma pedagogia importante para o trabalho com jovens e adultos.
Desta forma, sustenta-se a tese de que o trabalho docente na série Segunda
Chamada é constituído por um modo de ser docente, comprometido com o ensino e
com os/as estudantes e, ao mesmo tempo, atravessado por um contexto neoliberal
que convoca cada vez mais docentes a se responsabilizarem, individualmente, pelas
transformações das trajetórias de vida desses/as alunos/as. Esse modo de ser
professor/a é denominado, nesta pesquisa, de “pedagogia da compaixão”.