Resumo |
Este trabalho busca compreender como se deram as relações interétnicas, de masculinidade e de honra entre os imigrantes da Colônia Conde D’Eu, ao longo do final do século XIX e início do XX. A Colônia, localizada na Serra Gaúcha, foi marcadamente povoada por imigrantes italianos e seus descendentes, no entanto, também se fizeram presentes luso-brasileiros, alemães, franceses, poloneses, austríacos, tiroleses, entre outras etnias, de forma que objetivamos captar como se davam as relações entre os diferentes grupos. Através da transcrição e análise de dois processos-crime ocorridos na Colônia Conde D’Eu, no período indicado, além da bibliografia disponível sobre a temática, foi possível perceber as diversas relações travadas. Foram relações amigáveis, de compadrio e proteção, mas também fortemente pautadas na masculinidade, definidas pela honra e determinadas pela etnia dos envolvidos, já que de cada grupo esperava-se uma conduta e reação pré-determinadas pela sociedade. Esses grupos diferentes etnicamente conviveram em muitos casos pacificamente, mas em muitos outros, a superioridade imposta de um grupo em particular restringia a ação dos demais. Também foram grupos étnicos que, por diversos motivos, procuraram se isolar em suas comunidades, evitando o contato com os demais. Além disso, a masculinidade hegemônica, que precisava constantemente ser reafirmada, foi a causa de inúmeros conflitos, sobretudo em casas de negócios, já que espaços de sociabilidade desses homens. As questões de honra, várias vezes entrelaçadas com questões de masculinidade, abrangiam toda a população e tinham uma pressão especial sobre as mulheres, mas cabia aos homens a função de recuperar a honra perdida, limpando o nome da família. Assim, percebe-se que a realidade de interações e a complexidade apresentada pelos grupos na Colônia Conde D’Eu foram muito maiores do que as apresentadas na historiografia tradicional.; |