Resumo:
O crescimento de discursos à direita do espectro político tem recebido especial atenção de pesquisadores de inúmeros países do ocidente, inseridos no campo das ciências humanas. Como aspecto comum às ascensões das direitas pelo mundo, nota-se a sobreposição do discurso econômico perante as formas de organização social, bem como a própria vida intima dos sujeitos, em um processo de racionalização das práticas cotidianas, ao qual vem sendo nomeado de neoliberalismo. No campo educacional, os discursos neoliberais atuam, principalmente, em função de reformar tanto a escola quanto a comunidade escolar, para que convirjam às logicas da concorrência e do individualismo. Contudo, há especificidades intrínsecas às formações discursivas neoliberais que necessitam ser examinadas. Ciente disso, este trabalho buscou compreender de que forma os discursos reformistas sobre a área educacional, veiculados pela série de livros Pensamentos Liberais, desde o seu primeiro volume, em 1994, até o vigésimo quarto, em 2020, produzem concepções de educação (neo)liberal no Brasil contemporâneo. Os objetivos do estudo foram: narrar de que forma o Fórum da Liberdade de Porto Alegre tornou-se um dos principais produtores de discursos neoliberais no Brasil contemporâneo; enunciar as práticas discursivas relacionadas à Educação, engendradas pela série de livros Pensamentos Liberais; analisar os meios pelos quais as práticas discursivas da série Pensamentos Liberais inscreveram o discurso das reformas educacionais em um regime de verdade; e discutir os efeitos das concepções de educação (neo)liberal no campo educacional brasileiro. Para tanto, o procedimento realizado foi o de análise documental, compreendendo os documentos como monumentos históricos. Considerou-se os 24 volumes da série de livros Pensamentos Liberais (1994-2020) como um arquivo documental de um corpus empírico composto por 17 artigos em que a temática educacional é o foco de discussão, além de outros 19 artigos com discussões não centralizadas à área educacional, mas com o tema tangenciado de alguma forma. A partir de uma trituração dos materiais, emergiram os seguintes acontecimentos discursivos para a discussão: a Teoria do Capital Humano; a dicotomia entre o investimento em ensino básico x ensino superior; o modelo de financiamento de voucher educacional; o imperativo da valorização salarial de professores de acordo com o seu desempenho; a adoção de métricas comparativas entre gastos do Produto Interno Bruto x resultados de avaliações em larga escala; e o “problema” da educação pública ter seu currículo definido pelo Estado. Concluiu-se que a produção discursiva da educação neoliberal brasileira mescla valores oriundos de duas escolas econômicas, de Chicago e Austríaca, a fim de forjar sujeitos individualistas e críticos a incentivos sociais, os quais seriam imorais perante o mercado e restringiriam a liberdade de escolha, alcançada apenas com aceitação do egoísmo como devir da existência.