Resumo:
Esta tese argumenta que a Teoria Social da Deficiência – com foco nos protestos formados pelas pessoas com deficiência no movimento internacional (1970 – 1980) e nacional (1975 – 1990) - agregou avanços significativos, mas ainda se mostra pouco relevante quanto ao avanço laboral da pessoa com deficiência visual. O movimento local mostra-se insuficiente para influenciar as políticas públicas e as Instituições assistenciais para a formação e a profissionalização desses atores sociais, que enfrentam grandes dificuldades nesse campo. Esta constatação partiu da observação na Associação Baiana de Cegos, que tem se mobilizado desde o ano de 1985 em prol da formação, habilitação e encaminhamento da pessoa com cegueira para o mundo laboral. O corpus da investigação é formado por um conjunto de dados coletados por meio de entrevistas individuais semidiretivas, com enfoque narrativo e observações da cotidianidade no locus da pesquisa. Foram analisadas as transformações e permanências, utilizando-se a técnica de Análise de Conteúdo de Laurence Bardin. Também se discute a questão das subjetividades ligadas aos processos de formação profissional, seu ethos identitário e profissiográfico, do qual se põe em relevo os contornos delineadores das superações paradigmáticas, entre avanços e retrocessos, individual e coletivamente, dos sujeitos em epígrafe. A tese fundamenta-se com os principais articuladores teóricos: Alberto Melucci e a ideia dos movimentos sociais como ações coletivas; a questão identitária e o ethos profissiográfico, no viés dos estudos culturais contemporâneos, com Stuart Hall, Kathryn Woodward e Tadeu Tomaz da Silva; a aplicação conceitual e argumentativa de José Ivo Follmann sobre os processos de identidades, quando afirma que “o ser humano é um ser de projetos”; e Hannah Arendt e a categoria de análise através dos três pilares: o labor, o trabalho e a ação. Os resultados da investigação sinalizam as grandes dificuldades encontradas pelos sujeitos que se profissionalizam e tentam entrar no mundo laboral. Outro subconjunto desse universo é composto por sujeitos que se sentem desmotivados para ingressar no processo de qualificação e/ou profissionalização, adotando a informalidade como forma alternativa de viver e trabalhar. A Lei de Cotas não tem impedido que as exigências do mundo empresarial se constituam em fixadores de fronteiras para os deficientes visuais. Contudo, esse conjunto de pessoas apresenta possibilidades emancipatórias, através da visibilidade de seus processos de identidades, se lhes forem disponibilizadas políticas públicas adequadas e um mergulho no campo laboral, cujo coletivo pode oferecer modos de subjetivação singularizantes, possibilitando que a prática concreta seja capaz de efetivar a transição do estágio arendtiano de “animal laborans” para “Homo faber”.