Resumo:
Esta dissertação objetiva compreender, analisar e problematizar como o conceito de cidadania é mobilizado na educação matemática, nas políticas curriculares brasileiras e em documentos publicados pela UNESCO no período de 1996 a 2018. Trata-se de uma pesquisa documental, em que o conjunto de materiais empíricos é composto por dois tipos de documentos: documentos de orientação curricular e documentos publicados pela UNESCO. O primeiro movimento analítico foi realizado a partir da pergunta por que aprender Matemática? e possibilitou encontrar quatro justificativas para tanto. Dentre elas, optou-se pela análise do conjunto voltado à promoção da cidadania. Assim, questionou-se como a educação matemática e a cidadania aparecem nas políticas curriculares brasileiras e em documentos publicados pela organização internacional no período em questão. Para tanto, a pesquisa utilizou o conceito de metamorfose como operador, além das teorizações acerca do cidadão cosmopolita. A segunda investida nos materiais possibilitou compreender dois focos analíticos, bem como sua interseção, quais sejam: 1) resolver problemas e realizar escolhas e 2) preparação para a cidadania associada à responsabilização individual. A partir disso, sustenta-se que, nos dois grupos de documentos, ocorre o fomento do desenvolvimento de competências que independem do conteúdo matemático, mas que são consideradas necessárias para que o cidadão assuma a responsabilidade pela resolução de problemas em todas as esferas da vida social. Em contrapartida, a cidadania, enquanto princípio coletivo de responsabilidade para com os outros é esmaecida. Assim, essa pesquisa contribui para a discussão sobre a relação entre cidadania e educação no contexto brasileiro, marcado pela fragilidade da garantia de direitos e deveres para a manutenção de vidas dignas, compreendido a partir da acentuação das desigualdades.