Resumo:
A intensificação do trânsito de pessoas entre diferentes países tem gerado reações diversas no âmbito político-administrativo dos países-destino dos imigrantes. Uma questão desafiante é a da garantia dos direitos básicos aos imigrantes, especialmente do direito à saúde. Esta tese propõe-se a analisar como se configuram as práticas de cuidado voltadas à saúde das mulheres haitianas no Brasil, em especial, aquelas orientadas à gestação, parto e puerpério, na perspectiva das usuárias e dos trabalhadores de saúde, e em que medida são abarcadas as experiências de maternidade na diáspora. Por meio da abordagem qualitativa, a partir das narrativas dos sujeitos que as vivenciam, a pesquisa buscou refletir sobre como o Sistema Único de Saúde (SUS) está respondendo às novas demandas incorporadas por este grupo de usuários/as, particularmente, em relação à assistência prestada às mulheres haitianas no período gestacional, parto e puerpério. Para tanto, o estudo analisou como marcadores de origem nacional, raciais e de gênero se articulam para entender tanto a assistência prestada, quanto a experiência das haitianas de maternidade na diáspora. No tocante ao atendimento voltado à saúde da mulher haitiana, destaca-se a (re)produção de desigualdades de gênero e raciais, tendo como principais dificultadores a comunicação, que ainda é uma barreira a ser transposta nos serviços, e as características culturais e socioeconômicas, que podem influenciar no cuidado em saúde. Percebe-se que, em certa medida, os serviços estão despreparados para prestar atendimento equitativo e integral à migrante haitiana, e que, desde o início do processo migratório de haitianos para Cascavel, não houveram avanços significativos na implementação de ações que contribuam na melhoria do atendimento, bem como iniciativas de acolhimento, equidade e eficácia nas práticas assistenciais na área da saúde. Na perspectiva das mulheres haitianas, as trajetórias e experiências de atendimento na gestação, parto e puerpério foram satisfatórias em grande medida, no entanto, os relatos evidenciam que a qualidade da atenção é questionável, uma vez que, com a dificuldade na comunicação, a qualidade da informação é prejudicada, e não há clareza na efetividade das mesmas. Os relatos também abordam que suas vivencias foram marcadas por violências raciais, práticas discriminatórias e violência de gênero. Observa-se a necessidade de trabalhar a interculturalidade com os profissionais que prestam assistência à essa população, uma vez que ainda há situações de tensões permeadas pela diferença cultural.