Resumo:
O cenário religioso brasileiro sofreu mudanças a partir do final do século XIX, quando
chegaram ao país as igrejas protestantes históricas, e no começo do século XX, com o início do movimento pentecostal. As igrejas pentecostais, principalmente, provocaram a quebra do monopólio da Igreja Católica no cenário religioso. Ocorreu uma ressignificação da religiosidade, com o despertar de lideranças emergentes nas igrejas, que iniciaram novas igrejas, implantando inovações na liturgia, no louvor e na pregação. Surgiu o fenômeno chamado neopentecostalismo. A nova metodologia/estratégia contribuiu para que milhares de pessoas começassem a frequentar o novo formato de culto, no que foram imitadas pela maioria das igrejas pentecostais e por algumas não pentecostais. Esta tese retoma a concepção de Paul Freston, também utilizada por Ricardo Mariano e por outros, a partir da qual se definem caracteristicamente três grandes ondas do pentecostalismo no Brasil, para, mediante variado material empírico, primário e secundário, juntar argumentos a fim de demonstrar a existência de características de uma quarta onda do pentecostalismo que vem sendo desenhada por meio do fenômeno crescente dos “desigrejados”, ou, mais propriamente, da desinstitucionalização religiosa no meio pentecostal e neopentecostal. O
objetivo geral foi compreender as causas desse movimento. Especificamente, buscou-se
identificar: i) a relação entre a liturgia praticada pelas igrejas pentecostais e neopentecostais e o afastamento das pessoas; ii) os principais motivos ou razões da rejeição e do afastamento dos membros das igrejas pentecostais e neopentecostais; iii) as novas expectativas por parte dos “desigrejados” após a desinstitucionalização. Teoricamente, a pesquisa fundamentou-se, principalmente, nos trabalhos realizados por Freston (1994); Mariano (2004; 2014); Romeiro (2005) nas abordagens e comentários sobre o neopentecostalismo; Berger (1985; 2017; 2017b) acerca das questões relacionadas ao processo de secularização; Hervieu-Léger (2015) ao comparar o movimento de secularização nas igrejas brasileiras e francesa; Souza e Martino (2004) e Teixeira e Menezes (2011) tendo em vista a relação da sociologia da religião e mudança social; Matos (2011; 2017) ao tratar da história das igrejas protestantes brasileiras. Além dessas obras, foram fundamentais a abordagem feita por Bauman (2013) conceituando o que chamou de modernidade líquida, expressão que ele adota para falar da volatilidade das relações interpessoais e sociais, de modo geral, tendo em vista que esse
comportamento tem sido um dos indicadores do processo de desinstitucionalização, bem
como os artigos publicados por Follmann (2006; 2007) com esclarecimentos sobre a
mudança de comportamento religioso em diversas igrejas. Foram, sobretudo, essenciais
dezenas de entrevistas informais realizadas com as pessoas nas igrejas. Aplicou-se ainda dois questionários semiestruturados, um dirigido aos “desigrejados”, obtendo-se 31
respostas de 45, ou seja 69%, e outro aos pastores e líderes das igrejas pentecostais e
neopentecostais, obtendo-se 17 respostas de 48, ou seja 35,4%. O estudo conseguiu desenhar um quadro de debate suficiente para que se possa manter a hipótese da quarta onda do pentecostalismo no Brasil, caracterizada basicamente pelo fenômeno da crescente multiplicação dos “desigrejados” ou da desinstitucionalização religiosa no meio pentecostal e neopentecostal. O estudo também assume um caráter de ciência aplicada, na medida em que buscou entrar em interlocução com preocupações pastorais internas presentes nas igrejas.