Resumo:
Este trabalho tem por objetivo analisar a fundação das Sociedades
Recreativas Cruz e Sousa e União Operária, construídas por afrodescendentes em
Laguna, Santa Catarina, no pós-Abolição, entre 1870 e 1950. Tal estudo pretende
apreender as tensões entre sujeitos autodenominados mulatos e pretos,
compreendendo essas identidades a partir do lugar social ocupado pelos membros
de cada associação. Procuramos entender qual era o significado de ser “mulato‖ e
de ser “preto” para aqueles homens e mulheres naquele contexto, e o que os levou a
silenciar e/ou ocultar uma identidade étnico-racial. Compreendendo os embates e os
problemas em relação à memória, acreditamos que ela pode evidenciar experiências
de tempo que, evocadas pela mediação do entrevistador, trazem histórias de
pessoas comuns que a historiografia tradicional invisibilizou e/ou ignorou no
transcurso dos processos históricos. Deste modo, intentamos perceber a construção
dessas identidades e como esta memória foi produzida e reforçada nestes espaços
de sociabilidade. Intentamos ainda evidenciar a organização dos clubes recreativos
visando a compreender suas dinâmicas, lugares estratégicos de associativismo, as
possíveis redes de relações com outras agremiações, seus projetos coletivos e
individuais, as aspirações e expectativas quanto à ascensão social, visibilidade e
respeitabilidade na luta por cidadania em Laguna na primeira metade do século XX.