Resumo:
Esta tese se dedica a analisar os efeitos políticos de memórias, autoritarismos e resistências no momento presente em que História e Memória estão em disputa e se chocam em batalhas (de sentido e legitimidade), produzindo tentativas de revisionismo, reescrita e ressignificação do passado recente brasileiro. Dedica-se a analisar essas disputas, mas também os excessos, apagamentos, silenciamentos, resgates e potencialidades das memórias sociais e coletivas decorrentes do período ditatorial (1964-1985) e suas (possíveis) implicações para o estabelecimento de um cenário de ascenso (2015-2016) e consolidação (2017-2018) conservadora no Brasil. Partindo de alguns elementos constitutivos da formação social brasileira, destacando o histórico de pactos e acordos que mantém os privilégios das elites nacionais em diferentes épocas através da manipulação de histórias e memórias, analisa os efeitos do período autoritário sobre o processo de “abertura e transição democrática”. A partir da Constituição Federal de 1988 e das lentas e parciais medidas assumidas pelo Estado brasileiro em relação à Justiça de Transição, desenvolve três vetores principais que orbitam o objeto da pesquisa – Comissão Nacional da Verdade (CNV), manifestações de 2013 e manifestações de 2015 e 2016. A partir desses três vetores estabelece as condições para analisar e compreender as relações entre os legados e heranças autoritárias da ditadura civilmilitar para o estabelecimento do atual projeto autoritário-conservador que passou a incluir, concretamente, o fator militar(ista) e outros contornos autoritários e fascistizantes nos desdobramentos da conjuntura política nacional. Essas questões convergem para a hipótese central da investigação que diz respeito ao potencial das memórias sociais para o enfrentamento (ou aceitação) da barbárie e dos retrocessos autoritários que conformam o instável e incerto cenário político brasileiro.