Resumo:
Esta tese visa analisar o surgimento e a atuação de dois coletivos feministas em universidades da região centro-oeste do país: o Coletivo Afetadas, da Universidade de Brasília e o Coletivo Pagu, da Universidade Federal de Goiás. Em um contexto institucionalizado de violência de gênero, busquei refletir e debater as formas de organização e articulação política destas mulheres nos espaços acadêmicos, procurando entender como estes grupos combatem a violência contra as mulheres e quais as demandas e dificuldades que incidem nesta forma de ativismo. Também intentei compreender como ocorre a construção desta organização coordenada e integrada de construção dos movimentos sociais feministas nas universidades referidas. Para tanto, as seguintes questões constituíram os objetivos deste trabalho: como estes coletivos se percebem dentro das universidades? Como são decididas as suas pautas e a sua respectiva atuação? Quais são os sentidos que essas mulheres atribuem às experiências pelas quais passam? Ocorrem mudanças nas políticas ou ações da universidade por causa das atuações dos coletivos dentro e fora do espaço acadêmico? Como é que estes Coletivos articulam suas agendas, ou não, com outros movimentos sociais e de que forma o fazem? Para responder tais questionamentos foi utilizado o método de pesquisa de estudo de caso múltiplo, desenvolvidos com base em orientação etnográfica, a partir das técnicas da observação participante, da realização de conversas informais e de interações online, no período de três anos (2015-2018). O trabalho de campo desta pesquisa permite perceber o papel da mulher no espaço acadêmico e como este ainda tem sido desrespeitado, até mesmo pelos representantes e diretores das instituições, que são coniventes e permissivos em diversos contextos, colaborando para a perpetuação de uma cultura do estupro nas universidades. Nesse aspecto, esse estudo evidencia a capacidade e a potencialidade dos coletivos para mobilizar e se mobilizarem perante à sociedade em defesa dos direitos das mulheres. Diante desse cenário, compreende-se a necessidade e a relevância da organização espontânea em coletivos feministas como uma forma de resistência destas mulheres que sofrem diariamente a consequência da perpetuação do machismo nas instâncias abordadas aqui e fora delas.