Resumo:
A Divina Santa Cruz dos Milagres, uma cruz de madeira de pouco mais de um metro de altura feita de uma importante árvore da região, a aroeira, é uma dessas devoções populares do Nordeste brasileiro que movimenta uma multidão de fiéis em seus períodos festivos. A primeira menção à devoção data de 1888, quando é autorizada a construção da primeira capela em honra à Bendita Santa Cruz dos Milagres. Na presente tese, nos debruçamos sobre o período que seestende de 1968 a 1990, período de forte efervescência da devoção, lançando nosso olhar sobreos sujeitos que a vivenciaram e deram a ela múltiplos significados, tais como os fiéis, a Igreja Católica, os comerciantes e alguns políticos locais e regionais. A partir da consulta a uma historiografia de referência sobre a temática das devoções populares e das festas religiosas, analisamos as peculiaridades dessa santa sertaneja, destacando as curas extraordinárias que
tornaram possível a santificação popular da Santa Lenha, que transformou um povoado cercado por morros e cortado por rios no terceiro maior Santuário de devoção popular do Nordeste. O Templo Religioso que atrai não apenas os devotos do Piauí, mas, também, de outros estados, especialmente, do Maranhão, Ceará, Pernambuco e Bahia, que se deslocam de suas casas em busca das graças da misteriosa e milagrosa Santa Cruz. Nos detivemos, ainda, na análise das tentativas de ordenamento da devoção empreendidas, especialmente pela Igreja, mas, em algumas circunstâncias, fomentadas também pelo Estado, assim como nas evidências das táticas de manutenção devocional empregadas pelos devotos da Santa, considerando as três principais festas de devoção a Santa Cruz dos Milagres como a Festa da Invenção (maio), a Festa de Exaltação (setembro) e o Encontro dos Santos (outubro). As fontes consultadas foram os Livros do Tombo, Cartas e Decretos, materiais disponíveis nas paróquias e na Cúria de Teresina, documentos da Diocese do Maranhão, além de fotografias que nos permitiram observar vários
momentos das festas em homenagem à Santa Cruz, bem como discutir a intencionalidade desses registros.